Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

Terminadas as manifestações de 7 de setembro, as atenções voltam-se para a expectativa dos resultados de tudo o que se fez e falou, O presidente se permitiu ao desabafo e a mirar seu descontentamento no ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal como um todo e na negativa do voto impresso, rejeitado na Câmara por pressões vindas do Tribunal Superior Eleitoral. A grande expectativa neste momento é o que será feito na reunião do Conselho da República – órgão de aconselhamento criado em 1990 com a finalidade de  indicar ao governante as saídas para momentos de desequilíbrio institucional como o ora vivido. O clima parece de ruptura mas, na verdade, é apenas uma briga de vizinhos que deveriam ser mais ciosos ao cuidar da posição que a pátria e a sociedade lhes confiaram. Não há, pelo menos no momento, uma forma segura de análise do quadro, pois desconhecemos pormenores das ações a serem empreendidas nas próximas horas e dias. Isso, porém, é o normal em qualquer tempo de instabilidade. Algumas coisas, principalmente o possível desfecho, costumam surgir sem aviso-prévio.

É certo, no entanto, que nada deverá ser como antes de 7 de setembro. Podem os bombeiros institucionais entrar em ação e conseguir o armistício ou tudo marchar para o impasse, onde não há como prever o resultado. Todos os atores desse teatro político-intitucional precisam baixar o ego e ter equilíbrio para evitar o confronto que, dependendo de sua dimensão, pode levar até ao dramático derramamento de sangue entre irmãos.

Há bons tempos, os políticos ganharam o mau-hábito de recorrer ao Judiciário para ganhar no “tapetão” as contendas que não conseguem vencer no voto. Isso abre as portas para o Judiciário se imiscuir nas competências do Legislativo e do Executivo e, em vez de moderador, tornar-se instrumento do ativismo oposicionista. As questões, em vez de terminarem no parlamento ou no governo, passaram a ser impropriamente decididas na mesa do juiz, do desembargador ou do ministro de tribunal superior que, no muito, deveriam ser acionados para dirimir dúvidas constitucionais ou legais, mas jamais sobre o mérito. A prática judicializou todo o processo político-administrativo; recentemente vimos o Supremo Tribunal Federal impedindo a nomeação de auxiliares do Executivo (caso do diretor da Polícia Federal), determinando ao Senado a abertura da CPI da Covid e prendendo parlamentar (Daniel Silveira), mediante a passividade e até aprovação de senadores e deputados. A existência de grande número de parlamentares processados ou réus junto ao próprio STF, arranha a harmonia entre os poderes e leva a opinião pública inevitável conclusão de que tais indivíduos perderam completamente a independência para exercer o mandato e a representação que o povo lhes confiou, restando como verdadeiros monturos no ambiente institucional. Por seu lado, o presidente Jair Bolsonaro resolveu reagir e agora se espera o resultado.

Os poderes da República são harmônicos e independentes, diz a Constituição. Cada um tem suas prerrogativas e um não é superior ao outro. Parte-se da premissa que seus integrantes são figuras ilibadas, equilibradas e cumpridoras de seus deveres. Mas vivemos hoje em desvio. Parlamentares, chefes partidários e oposicionistas sem mandatos useiros e vezeiros em acionar a Justiça quando perdem no voto, e a Justiça mal-acostumada invadindo competências que não lhes pertencem. É preciso encontrar a solução e, de preferência, a menos traumática.

Há que se cumprir integralmente a Constituição, não obstante haja pontos do seu texto que – passadas mais de três décadas da entrada em vigor – ainda careçam de regulamentação ou revisão. Uma das questões a considerar, por exemplo, é a proposta de que os ministros do Supremo Tribunal Federal e das outras cortes superiores, em vez de políticos indicados pelo governante e aprovados pelo Senado, sejam oriundos da magistratura, Ministério Público e outras instâncias jurídicas e que, em vez de exercício vitalício desde a posse até os 75 anos, tenham mandato definido em quatro, seis ou, no máximo, dez anos. Para o bem da Nação, ninguém deve sentir-se dono do tempo e dos acontecimentos.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.