Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

A instituição é uma figura mítica que encerra o simbolismo de sua representação. Um gigante de cor indefinida que não ri, não chora e nunca faz cara de felicidade ou carranca. Por não externar opiniões, é o ponto de equilíbrio, guardando valores tradicionais que evitam a degradação e o caos. Sua atuação, naturalmente discreta, mantém o Estado e dá à Nação a certeza de que, nos momentos cruciais, a força do calado institucional não permite desvios de rota e objetivo.

Todo cidadão, por mais reformista que seja, traz em seu interior o conceito das instituições como a grandes âncoras protetoras de seus direitos, interesses e aspirações. O Poder Executivo, encarregado de prover as nossas necessidades coletivas; o Legislativo, fonte a que - através dos representantes eleitos - podemos recorrer para as atividades estatais e a sociedade funcionem em consonância com nossos interesses e necessidades; e o Judiciário, grande modulador dos conflitos tanto entre as forças institucionais quanto aos cidadãos. Os pesos e contrapesos das instituições devem funcionar de forma a pacificar os antagonismos e evitar a deriva do nosso grande e figurado barco.

Desde a República, por eles proclamada, os militares permaneceram na política e foram protagonistas milhares de episódios influenciadores da vida nacional. Na ruptura de 1964, sob o argumento de evitar o comunismo que implantaria a ditadura do proletariado, assumiram o poder e nele permaneceram por 21 anos. Recolheram-se aos quartéis em 1985 e de lá não saíram nem quando os governos regularmente eleitos naufragaram e sofreram impeachment.

Oriundo do Exército, mas legitimado por três décadas de atividade parlamentar, Jair Bolsonaro chegou ao poder via eleição. E,  quando levou militares para postos importantes, o fez por afinidade. Apenas seguiu o feito pelos antecessores como – por exemplo -  Lula que, sendo sindicalista, buscou seus companheiros dos sindicatos para com ele governar. Mesmo com discursos ácidos e discutíveis elogios ao regime de 64 e seus personagens demonizados pelas lideranças pós-85, o capitão fez tudo dentro da cartilha democrática. Quanto ao atual ministro da Defesa, embora seja um general, considere-se que o cargo não é privativo de militares – tanto que civis já o exerceram – e, como ministro, nada impede que fale e atue politicamente. Sua condição de militar, no caso, constitui apenas o histórico profissional.

A judicialização da política, crescente na vida nacional das últimas décadas, é um mal. Incapazes de fazer prosperar suas teses, parlamentares e forças da sociedade - parte delas ilegitimamente - passaram a transferir ao Judiciário o deslinde daquilo que não conseguem resolver através dos pesos e contrapesos. Criaram o aleijão institucional que hoje tumultua as relações entre os poderes. As impropriedades são muitas e complicam a vida das três instituições republicanas que - por mandamento constitucional - devem ser "independentes e hamônicas entre si" (art. 2° CF).

O Judiciário precisa vacinar-se contra as petições que o levam a assumir tarefas que são do Executivo e do Legislativo. Data Venia, não cabe à Justiça barrar a nomeação para cargos no governo ou nas casas legislativas e nem determinar que o Legislativo crie (ou deixe de criar) Comissões Parlamentares de Inquérito. A ministra Carmen Lúcia, ex-presidente e atual membro do Supremo Tribunal Federal, sabe disso. Tanto que se recusou a pressionar o presidente da Câmara a tramitar pedido de impeachment presidencial.

Precisamos das instituições – e de seus operadores – íntegros para poderem bem cumprir suas obrigações. O povo, bombardeado diuturnamente por informações de comportamentos inadequados de membros dos três poderes, não aguenta mais. É preciso baixar a bola. Não sustentar candidatos a paladinos. Basta que cumpram regularmente as suas funções, sem qualquer novação ou arroubo. Só dessa forma é que estarão se desincumbindo da tarefa que abraçaram. O povo agradecerá se assim o fizerem...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.