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Eu faço esse tipo e coisa. Li todo o pronunciamento do ministro Fachin ao tomar posse como presidente do TSE... Li e guardei. Por ora, vou me deter em apenas dois pontos.

No primeiro, o ministro fala sobre a imprensa.

“Quem almeja a paz, portanto, também reconhece o papel da imprensa livre e efetivamente respeitada em todas as suas prerrogativas, na garantia do pluralismo democrático.”

Onde está essa imprensa que o ministro vê exercendo suas prerrogativas na garantia do pluralismo democrático e cobrando respeito? Certamente não no coro uniforme dos grandes grupos de comunicação; nem no silêncio do consórcio dessas empresas em relação ao que não convém tornar conhecido; nem no seu cavernoso silêncio ante o ativismo judicial dos nossos tribunais superiores.

No segundo, fala sobre as redes sociais (sem as mencionar diretamente).

Nada menos de 11 vezes, em diferentes momentos, Fachin menciona o tema da informação. Foi o que ele mais enfatizou, dirigindo-se, sempre, sem o referir, aos espaços de protagonismo direto da sociedade na comunicação.

Em contrapartida, se há algo irrepreensível na comunicação social é o que ele chama, genericamente, mas com endereço bem específico, de imprensa. E o vice-versa é verdadeiro: para a essa imprensa, se há algo insusceptível de crítica nas instituições nacionais, são nossos tribunais superiores.

O ministro, então, se volta ao que denomina “circuito desinformativo”. Menciona o “Programa de Enfrentamento à Desinformação”; clama pelo “protagonismo da verdade no sistema informativo”; afirma que o tal “circuito desinformativo impulsiona o extremismo”; põe lupa sobre as “armadilhas da pirataria informativa”; denuncia a “normalização da mentira” e reitera o “combate à desinformação”.

Tudo certo, ninguém quer desinformação, mentira e pirataria, mas a contradição grita nas entrelinhas! O discurso mede a comunicação da sociedade nas redes com uma régua, e com outra a comunicação dos grandes veículos. Entende-se. Foi a democratização do direito de opinião, extinguindo o monopólio dos grandes veículos, a principal causa da derrota da esquerda em 2018. É sobre elas e só sobre elas, então, que incidem agora os rótulos e as suspeitas. Sobre elas, e só sobre elas, se aplicam censura, ameaças, articulações, acusações.

Por isso, se depreende do discurso que o ministro bebe da grande imprensa a verdade na mais cristalina de suas formas, sem fake news, nem fake analysis, nem factoides, nem omissões, nem acordos, nem conivências, nem conveniências.

Essa imprensa assim idealizada só pode existir na unanimidade que a caracteriza. E os fatos passam a pedir socorro.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

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