Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

As forças de mercado são um imperativo para qualquer economia capitalista. Associada ao processo democrático, as economias de mercado formam seus preços por meio da dinâmica entre oferta e demanda, refletindo o comportamento dos agentes econômicos à medida que interagem entre si.

Segundo Adam Smith, pai da economia moderna, os mercados deveriam funcionar sem intervenções do Estado, pois se autorregulam: é como se uma “mão invisível” atuasse de forma a gerar equilíbrio entre as interações dos agentes.

Muitos economistas atuam como policy makers, ou seja, como gestores de políticas públicas, procurando contribuir para a transformação de um mundo melhor para todos nós, o que implica em políticas que interferem na dinâmica da economia de mercado por meio de controle sobre o preço de determinados bens e serviços. O controle sobre preços costuma ser utilizado quando os policy makers entendem que o preço de mercado de um bem ou serviço é injusto, ou que em determinado momento se torne abusivo, impróprio, censurável. Creio que o leitor já deve estar imaginando onde quero chegar!

O filósofo Michael Sandel, Professor da Universidade de Harvard, questiona os adeptos do livre mercado a qualquer custo, especialmente em situações de emergência, como os efeitos de um furacão. Sandel faz o seguinte questionamento: “O Estado deve proibir abuso de preço mesmo que, ao agir assim, interfira na liberdade de compradores e vendedores de negociar da maneira que escolherem”? Sim, pois para o filósofo trata-se de uma questão de justiça.

Circular por supermercados e farmácias em busca de álcool gel e máscaras de proteção demonstra quão abusivo se tornaram os preços destes bens. Mas claro, você só irá perceber isso se conseguir encontrá-los.

No Código de Defesa do Consumidor está prevista tal situação: elevar o preço sem justa causa com o intuito de obter vantagem desproporcional é considerada prática abusiva e passível de multas. E o Procon, claro, já está atuando nesta perspectiva, inclusive com canal direto para denúncias.

Esperar que o mercado se ajuste, por meio da entrada de novas empresas, por exemplo, que ampliariam a oferta e, consequentemente, reduziriam os preços, implica em dois problemas: 1) como se trata de um momento emergencial, muitos não teriam interesse em produzir, pois quando a pandemia terminar a demanda irá voltar ao normal e o excesso de oferta reduziria os preços e as margens de lucro frente ao alto investimento para a entrada; 2) o preço elevado e liberado, neste momento, poderá criar um mercado paralelo destes produtos, ou seja, a produção sem respeitar critérios e sem fiscalização do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), colocando os usuários em duplo risco.

Economia é, antes de tudo, bom senso! E em determinados momentos a saúde coletiva, e a própria vida, precisam ser mais importantes que os mercados, afinal, como disse um amigo: “não é possível passar álcool gel em mão invisível!”.

Jackson Bittencourt é Doutor em Economia Regional e Coordenador do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.