Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

O coronavírus que, com sua potência, já matou tanta gente e cujos limites ainda são desconhecidos em razão das mutações, veio para quebrar paradigmas, forçar soluções que durante anos foram negligenciadas por governos, governantes e administradores e, também, para desmentir justificativas oficiais. No nível de ataque que hoje sofremos, formaram-se extensas filas de pacientes já diagnosticados à espera de uma vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou até no leito hospitalar simples. Muitos morreram e outros morrerão sem ter conseguido socorro e isso, hoje, escandaliza a sociedade. Médicos sentem-se na incômoda situação de, pela falta de vagas, terem de decidir quem vai morrer e quem vai ter a chance de  sobreviver. Esse quadro indigesto tem levado governantes a correrem com providências para a compra ou locação de equipamentos e a oferta de novas de vagas intensivas. Mas o quadro continua crítico.

Embora os levantamentos digam que a estrutura intensiva está ao redor de 90% de ocupação, o que é crítico, um olhar mais atento e aritmético sobre o quadro aponta pelo menos uma impropriedade. 90% de ocupação sugerem ainda restar 10% das vagas. Mas, estranhamente, nessas mesmas localidades, há fila de espera para a admissão às UTIs. A conta ou os procedimentos estão incorretos, com certeza. Se existissem os 10%, não haveria fila...

Retrocedendo para antes de março do ano passado – quando a Covid-19 foi identificada no Brasil – verifica-se que a falta de vagas para internação de pacientes tanto em leito simples  quanto em UTI já era um problema grave. Muitos acometidos de infartos, AVCs e outros males que exigem socorro imediato já perdiam a vida porque não eram atendidos no tempo indicado. Mas, apesar das queixas dos familiares, a repercussão era baixa, pois a anomalia já constituía uma nefasta rotina. E fato rotineiro não produz notícia, nem repercute.

Há muitos anos, o sistema de saúde pública brasileiro é ineficiente, apesar das elevadas somas de recursos que consome. Nunca se observou a demanda com a ótica no socorro do paciente. O sistema de saúde, infelizmente, serve para sustentar o discurso político, mas não recebe a devida contrapartida e nem a organização mais adequada para que o dinheiro público ali investido, em vez de bonitas instalações ou até o desvio para outros fins menos nobres, seja carreado para a tarefa principal de diminuir o sofrimento e preservar a vida da clientela.

A pandemia chegou ao ponto que hoje denuncia a crônica falta de vagas. É preciso que esse infausto recado seja prontamente atendido e – mais que isso – que, quando o coronavírus for embora, os equipamentos e serviços sejam mantidos para socorrer os pacientes de outras patologias. Aqueles que tradicionalmente morrem na portaria ou corredores das emergências à espera das vagas inexistentes. Os srs. governantes e responsáveis pela saúde pública não devem se esquecer que desde o dia 5 de outubro de 1988 – quando foi promulgada a Constituição, “a saúde é direito de todos e dever do Estado” – art. 196.

Deixar de atender ao carente de socorro de saúde, além de desumano, é inconstitucional...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br 

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.