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Não faz muito, uma senhora contou-me uma história. Dizia-me que seu filho, um aluno do Ensino Médio, estava se batendo para resolver uma equação. Vendo a fumacinha que estava saindo da cabeça do guri, ela sentiu pena e sugeriu que procurasse a resposta na internet.

Para a surpresa dela, o garoto mirou nela um olhar de reprovação e disse, laconicamente, não.  Disse não e continuou batendo a sua cabeça até que ele conseguiu resolver a dita cuja.

O rapaz ao agir desse modo demonstrou que estava cônscio de que a dificuldade que estava sendo enfrentada por ele não era, de jeito maneira, um elemento avesso à educação, muito pelo contrário, o obstáculo que estava em suas mãos, e diante de seus olhos, é a mãe do aprendizado.

Ora, se não enfrentamos obstáculos, se não encontramos dificuldade alguma em nossos estudos, das duas uma: ou somos um gênio da envergadura de um Da Vinci, ou então estão nos facilitando tudo para que não nos frustremos diante da possibilidade de cometermos um erro. Como se o erro e o fracasso não fizessem parte da vida.

Se pegarmos todo o populismo pedagógico, junto com o pedagogismo crítico, que há décadas vem desnorteando o sistema educacional brasileiro, veremos que a tônica, infelizmente, é essa perspectiva de verve hedonista e imediatista.

Bem, se afastamos todas as dificuldades e reduzimos toda empreitada pedagógica a um fazer lúdico, com o perdão da palavra, isso é hedonismo, do bem rasteiro, não educação.

Graças ao bom Deus, o rapaz está noutra vibe. Não nessa. E não é graças aos esforços das políticas educacionais da Pátria Educadora, ou do sistema de ensinação que nem a “Zoropa Paraguaia” possui. Nada disso.

Ele aprendeu isso com o Heavy Metal. Isso mesmo. Com o Rock. O rapaz estuda música e, na música, “sacumé”, não tem essa de achar a resposta na internet, nem recuperação, nem recuperação da recuperação, nem recuperação do que não tem recuperação. Ou você aprende direitinho como se faz, como manda o figurino, ou você não aprendeu.

Noutra ocasião, outra senhora, relatou-me que sua filhinha, que está nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a preocupava com suas listas. Perguntei-lhe que listas seriam essas e ela disse-me que eram listas com suas rotinas diárias.

A pequenina, segundo a senhora, teria elaborado duas tabelas com suas obrigações diárias. Numa constavam suas obrigações estudantis e domésticas. Na outra, estavam seus deveres religiosos.

Está aí outra coisa que, com a ajuda de anos a fio de criticismo pedagógico, foi se perdendo. Perdeu-se a importância da ordem e da disciplina na formação do caráter de uma pessoa. Logo, a senhora não tinha do que se queixar, nem motivo para se inquietar. Sua filha estava no caminho certo.

No mundo contemporâneo esqueceu-se que a formação intelectual de uma pessoa passa, necessariamente, pela edificação moral do indivíduo. Basta lembrarmos que todo bom hábito, necessariamente, para ser bom, precisa ser ordenado de forma virtuosa, inclusive e principalmente o hábito dos estudos.

Zelo na feitura das tarefas, ordem no cumprimento de seus deveres, disciplina na realização de seus estudos, docilidade frente a construção do conhecimento, humildade diante da verdade, prontidão no enfrentamento dos desafios e, é claro, honestidade intelectual para reconhecer que não sabemos para, desse modo, realmente, podermos aprender e crescer em espírito e verdade.

A menininha em questão, com suas listas e tabelas, também não aprendeu essa prática virtuosa com as regras pra lá de flexíveis que são apresentadas pelo sistema educacional vigente. Não. Ela aprendeu isso com os animes que ela tanto gosta de assistir e, vendo suas personagens favoritas organizando a sua rotina diária com listas e tabelas, resolveu ela, também, fazer o mesmo com o seu dia a dia.

Infelizmente, no mundo contemporâneo, esquecemos que aprender é, muitíssimas vezes, uma tarefa desconfortável e, também, monótona. Ignoramos, soberbamente, que aprender exige esforço e que, esforço, exige disciplina e, sem isso, a palavra educação torna-se um vocábulo oco, desprovido de sentido.

Não é à toa que nosso sistema educacional está naufragando. E assim nos encontramos porque nos recusamos, teimosamente, em reconhecermos que os pressupostos que dão sustentação tanto as concepções pedagógicas modernas, bem como as normas que regem e mutilam o fazer pedagógico, estão profundamente equivocados, divorciados da realidade e, francamente, não vejo que a mudança necessária venha a ocorrer em médio prazo e, as razões para isso, infelizmente, não são poucas.

Porém, nada impede que cada um de nós mimetize o exemplo dessa garotinha e desse rapagão que, literalmente, passaram a fazer o óbvio ululante que, desde a aurora dos tempos, era de conhecimento de todos, e era ensinado a todos, mas que hoje literalmente foi largado e abandonado ao desdém por cada um de nós.

Enfim, se realmente estivermos interessados em aprender e crescer em espírito e verdade, o caminho é esse. Basta que ousemos dar o primeiro passo e perseverarmos com firmeza nessa direção.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor e cronista (dartagnanzanela@gmail.com)

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