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Quando a galera galerosa declara em alto e bom tom que ela está expressando sua opinião crítica, muito mais do que crítica, o que essa turminha do barulho, cheia de gracinhas sem graça alguma, está querendo dizer é que ela se identifica de corpo e alma com os íncubos e súcubos ideológicos marxistas e que esses seriam a expressão cristalina da “verdade”, o evangelho segundo Marx, apesar da turma toda dizer que tudo é relativo, que no final tudo se esbugalha no ar.

E com base em um receituário prontinho e canhestro, datilografado nervosamente num guardanapo de bar, a turma toda sente-se mais do que legitimada para classificar como pobres almas alienadas, todos aqueles que tenham a petulância de levantar algumas críticas às "impostura críticas” que eles ostentam [soberbamente] com base em suas teorias [é claro] críticas.

E é bem aí que a porca torce o rabo. Explico-me: sim, o fenômeno da alienação existe. Sim senhor, existe e, infelizmente, todos nós temos algum grau dessa tranqueira encalacrada em nossa alma que, das mais variadas maneiras possíveis e pensáveis, acaba por turvar o nosso olhar sobre a realidade e macular a nossa claudicante consciência. E se não somos capazes de reconhecer a presença disso, da alienação nossa de cada dia em nossa alma, é porque somos mais alienados do que podemos cogitar, pois, como todos podemos imaginar, quanto mais profunda é a alienação que impera em nós, maior é a sensação que temos de que estamos tão despertos quanto [adivinhem...] criticamente conscientes.

Porém, todavia e, entretanto, a maneira torta como esse conceito descritivo é utilizado, pela galerinha de olhar rubro, não é para analisar os fatos e melhor compreendê-los e, muito menos, para ampliar o seu horizonte de consciência. Nada disso. Ele, o conceito de alienação, no frigir dos ovos, é usado apenas como uma espécie de porrete simbólico para bater verbalmente em todos aqueles que forem identificados como sendo uma ameaça em potencial para os seus idolatrados íncubos e súcubos ideológicos.

Infelizmente, o uso leviano de conceitos descritivos, como se fossem ripas cravejadas de pregos para dar no lombo dos outros, é mais comum do que muitas vezes somos capazes de admitir. E o pior é que não somos capazes de admitir muita coisa não.

Da mesma forma que a galerosa galera vermelha ama de paixão chamar todo mundo de alienado, e de outras coisinhas nada edificantes, a galera galerosa que se diz de direita, conservadora, amante da “alta cultura” e tutti quanti, não perde tempo, nem mede as palavras, para carimbar a testa de qualquer um com o rótulo de analfabeto funcional.

Pois é. Infelizmente, da mesma forma que o conceito de alienação, o conceito de analfabetismo funcional, de tanto ser usado como um porrete retórico, acaba perdendo a sua função descritiva.

O conceito de analfabetismo funcional procura descrever um fenômeno que está entranhado nas vísceras da sociedade brasileira e, em alguma medida, se faz presente em todos nós, em nossa alma. Moléstia esta que turva nossa capacidade de apreensão e compreensão da realidade e, obviamente, se somos daqueles que apenas aponta o dedo acusador para o analfabetismo funcional reinante, sem reconhecermos a presença desse mal, em alguma medida, em nós, é porque estamos mais debilitados intelectualmente do que somos capaz de reconhecer, tendo em vista que a inteligência é o único bem que quanto mais nós perdemos, menos falta sentimos do que foi extraviado por nós pelo meio do caminho.

Por essas e outras que é sempre bom lembrarmos que, como nos ensina o filósofo Joseph Pieper, ser crítico não é, de modo algum, sinônimo de agrilhoar nossa consciência a uma ideologia e subordinar a nossa inteligência aos ditames desta. Nada disso. Ser crítico, também, não deveria ser apenas uma postiça sinalização de "virtude", onde exibe-se uma espécie de distintivo preso na camisa, como se fosse um crachá de identificação para sermos facilmente reconhecidos pelos integrantes da nossa assembleia de inconscientes inconsequentes. De jeito maneira.

Ser crítico, de fato, é ser vigilante frente às nossas convicções, criterioso com relação às nossas ideias e opiniões, atento aos nossos juízos e deliberações e, acima de tudo, perseverante e paciente com relação a todas as dúvidas que nos assaltam. É claro que fazer isso dá algum trabalho, um trabalho do cão, sei disso e, por essa razão, a galerosa galera tanto da sinistra, quanto da destra e bem como de todas as direções e orientações possíveis e pensáveis, preferem apenas ostentar o seu distintivo [de papelão] de xerife da criticidade [criticamente crítica], ou de delegado da “alta cultura” rasteira do botequim quebrado da Civilização Ocidental.

Agora, sem demora, tomemos um café. Daquele jeito: preto e sem açúcar.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - https://sites.google.com/view/zanela

* Os textos (artigos) aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do GRUcom -  Grupo União de Comunicação.

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