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No curso de medicina, temos mais 8500 horas totais de carga horária, direcionada ao aprendizado técnico. Entretanto, infelizmente, entre tais horas, pouquíssimas horas são utilizadas para desenvolver o lado humano do médico (a). Dessa maneira, cada um “se vira” com os valores e ensinamentos trazidos de casa. Talvez alguém se pergunte: o que eu tenho que ver com a formação dos médicos (as)? Aos que se fizerem tal pergunta, lanço o seguinte questionamento: quem será atendido pelos médicos (as) que estão sendo formados hoje?

Estou no 5º ano do curso de medicina, e nunca me disseram o que fazer diante da perda de um (a) paciente. Assim como nunca me disseram como comunicar um falecimento de maneira adequada aos familiares de um (a) paciente. Há quem diga que alguns médicos (as) falham na hora de dar o devido suporte ao paciente hospitalizado, por exemplo. Digo-te que tal situação, não raro, resulta da nossa formação. Como exercer uma conduta, quando ela não é trabalhada no cotidiano? O ser humano não é apenas um conjunto de órgãos que podem vir a adoecer. Sempre existe uma história de vida que não pode simplesmente ser enquadrada em um diagnóstico e/ou protocolo.

Não estou aqui, hoje, para ensinar a como reagir diante da perda de alguém. Por mais que esteja no 5º ano de curso e imagine como é a imensa dor de perder um ente querido, nunca passei pela experiência dolorosa de perder alguém próximo. Acredito que para desenvolver uma habilidade, primeiro precisamos assumir que não temos tal habilidade totalmente desenvolvida. Na atualidade, nas mídias sociais, sobram cursos que prometem, não raro, glória instantânea. Entretanto, faltam conteúdos que ensinem as pessoas a compreender a perda de alguém especial, por exemplo. Assim como faltam materiais que nos ensinem a lidar com as nossas dores e a acolher ao sofrimento do próximo. Na vida real existe perda, dor, sofrimento, mas podemos convertê-los em aprendizado e experiência, ainda que a saudade aperte.

Independente da profissão que tu exerces, convido-te a refletirmos sobre o quanto estamos aptos a compreender as nossas perdas e as do próximo. Será que estamos respeitando a dor do outro, assim como desejamos que respeitem a nossa dor? Por fim, convido-te a irmos trabalhando, mesmo que aos pouquinhos, nossas habilidades e valores no cotidiano, para que possamos compreender de melhor maneira as adversidades pelas quais passamos em nossa vida. Que a vida vá, mesmo que aos poucos, ensinando-nos a compreender, a respeitar e a acolher a dor do outro, assim como desejamos que acolham a nossa.

Anderson Luís Pires Silveira – Estudante de Medicina da UFSM - – Santa Maria/RS - andersonpires.ufsm@gmail.com

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