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A história da humanidade flui por uma evolução independente de deliberações do povo ou de seus maiores.

Saltamos, porque assim deveria ser, da era dos caçadores-coletores para a agricultura, da precariedade dessa para sua industrialização, depois para o domínio dos mercados e, há trezentos anos, para a sociedade moderna, resultante das revoluções industriais.

Esses diversos modos de subministrar a sobrevivência e o processo civilizatório foram formados de sucessivas contradições. Cada etapa tinha seus avanços no sentido de melhorar a relação entre o homem e a natureza, mas acompanhados de efeitos colaterais, como por exemplo, nas eras industriais, benefícios tecnológicos jamais imaginados e um proletariado proveniente da desigualdade criadora de fossos brutais e miséria intolerável para grandes contingentes de seres humanos.

O determinismo idealista da evolução, no plano das ideias sustentado por Hegel e, na realidade material, transportado para a escravidão, o feudalismo, o capitalismo e o socialismo, esquema imaginado por Karl Marx, foi precisamente isso: idealismo, sem correspondência com os fatos empíricos e verdadeiros.

No campo da existência humana, individual e social, a vida da maioria, na idade média, assentava-se em três estruturas tradicionais: a família nuclear, a família estendida e a comunidade local. Nesse estrito, solidário e precário mundo o indivíduo, desde o nascimento até a morte, caminhava e sobrevivia sobre laços íntimos, base daquelas estruturas. Solucionava seus problemas sem a interferência de estranhos: doenças eram cuidadas em família e controvérsias jurídicas solucionadas somente em último caso por médicos e advogados.

O mercado e a indústria desfizeram os vínculos familiares e criaram as relações públicas. Liberto, o indivíduo passou a ser o único responsável por seu destino, amparado em instituições estatais, criadas pelo Estado moderno, pela multiplicação das especialidades e sua oferta generosa de produtos e serviços.  A família nuclear subsistiu apenas para dar curso aos sentimentos emotivos nos fins de semana.

Mas os nacionalismos e as guerras, imaginadas, deflagradas ou contidas, persistiu a fazer de nosso planeta um lugar inseguro. Bilhões de dólares foram investidos em arsenais atômicos, que não passaram de arsenais, porque uma terceira conflagração seria o apocalipse. A preparação atômica, paradoxalmente, conteve o terceiro confronto, mas imobilizou uma riqueza científica incomensurável. A ciência contemporânea promove descobertas estonteantes, mas quem define seus objetivos são os Estados provedores de seus recursos necessários.

A inusitada crise do Covid-19, como outros fatos da história, ensejará nova mutações, nesse processo de transformações incessantes. Passaremos das famílias, do mercado e do nacionalismo beligerante para a aldeia global, que deverá interagir principalmente por meio de ideias simultâneas e preparar-se para enfrentar inimigos comuns, antes que novas ondas assassinas levem muitos outros de nossos irmãos, biologicamente destroçados, para covas comuns.

Amadeu Garrido de Paula, poeta e ensaista literário, é advogado, atuando há mais de 40 anos em defesa de causas relacionadas à Justiça do Trabalho e ao Direito Constitucional, Empresarial e Sindical. Fundador do Escritório Garrido de Paula Advocacia e autor dos livros: “Universo Invisível” e “Poesia & Prosa sob a Tempestade”. Ambos à venda na Livraria Cultura - bruna@deleon.com.br

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