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Lembro-me de uma história contada por meu saudoso avô materno, Félix Esteves que, aos 15 anos, se viu obrigado a fugir da Espanha, com seu pai José e seu irmão Fulgêncio, para não irem à guerra. Na época, estavam sendo convocados, jovens a partir dos 14 anos de idade.

Estava por começar a Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918. Sabidamente, foi motivada, principalmente, por questões ideológicas. Nesses quatro anos de imbecilidade, houve mais de 30 milhões de pessoas mortas e mutiladas.

Ao anúncio dessa guerra, milhares de mulheres, crianças e adultos, partiram em retirada para o Brasil. O embarque seguia os procedimentos emigratórios de praxe. Enquanto isso, os meninos em fuga, para não serem impedidos de viajar, tiveram que ser embarcados, clandestinamente, escondidos em barricas de madeira guardadas no porão, até o navio atingir uma boa distância do Porto de Gibraltar, em direção ao Porto de Santos.

Minha bisavó Margarita preferiu ficar na Espanha, até encontrar a filha mais nova (do seu primeiro casamento), que teria sido raptada, pelos revolucionários. A menina nunca foi encontrada.

Durante a viagem, meus avós ensaiaram um namoro. Mas, o Departamento de Imigração do Brasil os enviou para regiões diferentes, conforme a necessidade dos produtores de café que tinham escassez de mão de obra, devido ao fim da escravidão. Dez anos depois, meus avós se reencontraram, casaram e semearam nossa família.

Ao contar essa história, meu avô não escondia a emoção em não ter podido defender o seu país. Coincidência ou não, seu primogênito, Félix Esteves Junior lhe presenteou, servindo a Pátria, seguindo a carreira militar, de forma bem sucedida.

Recentemente, tive a oportunidade de conhecer a terra natal de meus avós, Pueblo de El Barraco, Província de Ávila. Ao lado da igreja do povoado, constavam os nomes de dezenas de jovens, gravados em uma lápide de pedra, em homenagem a “Los caídos de la España”. Eram meninos entre 14 e 18 anos. Infelizmente, os primos e amigos de infância de meu avô, todos morreram na guerra.

Esse episódio nos remete a interpretar a frase atribuída ao juiz irlandês John Philpot Curran: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. O vigilante cuidado de meu bisavô, para com seus filhos, nos fez compreender a importância em lutarmos pela nossa liberdade.

“Descobre o valor da liberdade, principalmente, quem perde a sua”. Infelizmente, parte de nossa juventude não se dá conta que está contaminada por histórias maquiadas ou distorcidas da realidade, aprendidas em boa parte de nossas atuais escolas oficiais. Pelos filhos, ainda luto. Eles não ficaram isentos dessa ilusória contaminação. Provavelmente, a ficha demore a cair. O tempo é o senhor da razão. Enquanto há tempo e razão, lutemos por eles.

Luto, muito mais, pelos netos que, na inocência, não imaginam o que está por vir se, entregarmos nossa nação, a um sistema opressor, camuflado de paz e amor. Com a cabeça feita, essa nova geração, que se considera cheia de razão, ainda não tem a necessária experiência de vida e a perspicácia para perceberem o risco para si e seus familiares.

Tenho amigos de ideologias diversas, sem qualquer permeabilidade. Entretanto, durante meu curso de mestrado em Odontologia Social e Saúde Coletiva, nos módulos de Ciências da Conduta, sofri fortes tentativas de influências, nesse sentido. Tive o discernimento para não me desviar do prumo. Na teoria, essas vertentes são maravilhosas... na prática, são fantasmas fantasiados de ilusão. Que Deus nos proteja! Quero meus descendentes com liberdade para completarem o ciclo.

Por fim, sou grato ao meu avô por ter me contado a história da origem de nossa família. A tomada de decisão de meu bisavô, nos possibilitou chegar até aqui, com plena liberdade para pensar, sentir e agir. Ele sim, foi um visionário. Pressentiu o risco de vida de seus filhos. Sabia qual era o valor da liberdade. Teve a coragem e ousadia de abandonar tudo e a todos, em busca dessa liberdade. Vieram para um país livre e de bons costumes. Seus descendentes agradecem. Obrigado, José! A liberdade não tem preço!

Só espero que, após um século de história de nossa família no Brasil, não tenhamos que abandonar tudo e fazer o caminho de volta, em busca dessa tal liberdade.

Félix Ribeiro – Londrina – Pr. - Professor Universitário

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