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Presídios da espécie de um mesmo gênero. Cárceres onde homens e mulheres se fazem prisioneiros, vítimas fatais de sua incomunicabilidade. A origem, misteriosa, desconhecida, os confinou. Cada qual num universo. O homem sente que tem sua sina. A mulher a sua. Falam a mesma linguagem, mas a linguagem é ferramenta do engano. Longe de transmitir o que brota da alma, do espírito ou do cérebro. Somos ambos, movidos por eléctron incomunicantes, nossos seres se distanciam, presos por fortes ataduras.

Ilusoriamente, desde que nascemos imaginamos a osmose dos amantes. Por isso as frustrações que nos perseguem por toda a vida. Forças irresistíveis nos extremam. Mães de uma espécie, que amamentam meninos, seres de outra dimensão; que tendem a vidas que jamais se interpenetrarão.

A ansiedade manda um falso recado: terminará no orgasmo. Diferentes e incomunicáveis. O coito não une ninguém. Satisfaz só seu próprio autor. As espécies permanecem isoladas e não se amalgamam, "malgré toute". Há um esforço recíproco, reconheçamos. Principalmente quando a conjunção não é só física, mas também psicológica. Tal como o conhecemos hoje, o amor não passa de um grande esforço psicológico. Daí porque o verdugo tempo é seu principal inimigo. É o teatro em que todos representam.

Entre as espécies, no atual estágio da vida sobre este planeta, não há interação. Somente dissimulação. A história está cheia de juras e Shakespeare foi o rei das mortes por espadas movidas pelo amor. Nosso maior literato moveu-se com êxito no mundo cruel dos enganos. O plasma das espécies sempre vigorou, formou o costume implacável dos altos muros da prisão.

O homem não quer a mulher, quer a si próprio. E vice-versa. O unguento das paixões é uma gosma com que alisamos apenas nossos próprios seres. As virtudes, os sacrifícios, a entrega da própria vida, nada modificam. O homem vê a mulher como um apêndice de sua volúpia. Algo pouco mais que seu terno elegantíssimo comprado ainda hoje. Premia com joias, mas está afagando seu próprio ego. E a recíproca. Diz a mulher que o ama desmedidamente, quando é amor próprio. Antes de entregar-se, todo seu esforço é no sentido de entender o outro ser. Não o consegue. Recorre, mais uma vez, à mascara ilusionista. Ambos fingem que amam, não se odeiam, mas se iludem. Passaram horas agradáveis, que no futuro não passarão de ser programações insensíveis dos computadores que nos aguardam para inaugurar a plena civilização robótica.

Tudo é um sonho de noite de verão. Até que acordei. Lembrei-me integralmente do pesadelo narrado nas palavras acima escritas. Sei que o arrependimento nada repõe. Porém, acordei com uma vontade irreprimível de amar a primeira mulher que passasse pela minha janela. Confortar-me e confortá-la. Dizer-lhe que o ser humano - homem e mulher - se procuram com ardor. A arte que precisam aprender é a de conhecer o outro. Saltar os altos muros de uma prisão, o que não é impossível para uma raça única e inteligente. Conhecer profundamente as virtudes e os defeitos do outro, criados por um falso - esse sim, falso, determinismo biológico - e deixar que a força magnética dos elétrons nos unam - as conjunções austrais deram um verbete muito curto e belo para a união dos seres celestiais - amor.                                                               

Amadeu Garrido de Paula, poeta e ensaista literário, é advogado, atuando há mais de 40 anos em defesa de causas relacionadas à Justiça do Trabalho e ao Direito Constitucional, Empresarial e Sindical. Fundador do Escritório Garrido de Paula Advocacia e autor dos livros: “Universo Invisível” e “Poesia & Prosa sob a Tempestade”. Ambos à venda na Livraria Cultura.  bruna@deleon.com.br

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