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O prato político brasileiro das próximas semanas será a chamada terceira via, aquela idéia que é requentada em todas as eleições e, até agora, não decolou. Temos “lançados” a presidente da República, pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo, João Dória, pelo MDB a senadora Simone Tebet, e em vias de lançamento Luciano Bivar, do União Brasil. Mas Sérgio Moro – que teria jogado a toalha, trocado o Podemos pelo UB para ser candidato a deputado federal por São Paulo (embora more no Paraná) continua dizendo que aspira a presidência. Roberto Freire (Cidadania) e Ciro Gomes (PDT), candidatos do passado, poderão rep etir a dose e Eduardo Leite (que perdeu a prévia tucana para Dória mas renunciou ao governo do Rio Grande do Sul) também não tirou a idéia da cabeça. Toda essa articulação tem apenas um objetivo: derrubar Bolsonaro e Lula, segundo as pesquisas, os favoritos para a presidência em 2 de outubro. Se conseguirem vencer a vaidade de cada pretendente, poderão chegar a um nome de consenso, o que não é garantia de sucesso na empreitada. O ex-presidente Janio Quadros – que renunciou em 1961- costumava dizer que os políticos brasileiros são muito agarrados ao próprio interesse e só participam de algum esquema se o  próprio nome estiver no topo. “Eu renunciei à suprema magistratura do país, mas eles não são capazes de renunciar nem ao posto de inspetor de quarteirão” dizia o ácido e espirituoso ex-preside nte.

Se cada pré-candidato da terceira via não tiver a necessária humildade e o desprendimento para compreender que aquela não é a sua vez (e esta poderá nunca chegar), a alternativa entre os polarizados fracassará antes de existir concretamente. Principalmente levando em consideração que, pelo tipo de proselitismo realizado nas ultimas décadas, o eleitorado brasileiro foi adestrado para estar de um lado ou do outro. Atualmente, quem critica Bolsonaro é classificado como lulista e quem declara não estar com Lula é chamado de bolsonarista. Isso não é uma verdade aritmética mas ninguém sabe se forma o caldo de opções capaz de ensejar o sucesso de uma ter ceira via nas urnas. O pior de tudo não é essa incerteza, mas a dificuldade que os supostos candidatos têm para admitir seu tamanho específico e a melhor condição do concorrente admitindo sua candidatura e, logicamente, apoiando-a.

Tanto Bolsonaro quanto Lula devem estar muito tranquilos em relação à suposta terceira via. Certamente estão preocupados mais com o embate deles próprios e seus grupos do que com os alternativos. Isso é ruim para a democracia brasileira, que fica à mercê das extremidades ideológicas. Considere-se que fora do bolsonarismo e de lulismo existem propostas interessantes para o país. Mas a falta de respaldo eleitoral lança-as no cesto do lixo da história que dificilmente será revolvido algum dia.

 É importante entender que o mundo inteiro sofre profundas alterações eleitorais, decorrentes principalmente da internet, redes sociais e da comunicação global célere. As eleições de Donald Trump e Joe Biden nos Estados Unidos, de Emmanuel Macron na França e tantas outras decorrem do impacto dessa nova realidade. Assim como a de Bolsonaro aqui no Brasil (em 2018), que teve o grande empuxo das redes sociais e, evidentemente, da tentativa de assassinato (ainda não devidamente apurada) por ele sofrida.

O momento é singular. Não guarda nenhuma relação com o pós-guerra, o regime de 1964 e tem o da “Nova República” completamente desfigurado. Tanto é que os poderes institucionais divergem como nunca, os partidos políticos que chegaram a mais de 100 (entre registrados e com pedido de registro) hoje buscam se reunir em federações e os políticos parecem ter compreendido que não há só direita, esquerda e centro. Também existem as situações híbridas que, se encontradas e devidamente exploradas, poderão nos conduzir a um novo momento. A virar o ciclo e determinar como será o futuro. Oremos.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br 

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