Banda Nova abre programação de shows com encontro de duas gerações da música londrinense
A 6ª edição do Projeto Banda Nova abre a programação nesta quinta-feira (25), às 19 horas, no Centro Cultural Sesi/AML (Rua Maestro Egidio Camargo do Amaral, 130, em frente à Concha Acústica), com um encontro entre o Punk Rock de uma das bandas londrinenses mais duradouras, o Surface, e o suingue de Diogo Morgado Quartet.
Um show de gêneros musicais diferentes, mostrando duas bandas da região com trabalhos autorais e releituras, como propõe o projeto que está completando 10 anos.
“O legal do Banda Nova é que as bandas selecionadas têm todo suporte para a divulgação do trabalho. Além de cachê, contam com uma produção caprichada, assessoria de imprensa e registros em fotos e vídeo. O que é muito importante, principalmente, para quem está começando”, afirma o coordenador de produção Silvio Ribeiro, um dos idealizadores do projeto, que é produzido ainda por João Ribeiro.
Doze bandas participam desta edição. Além do Surface e Diogo Morgado Quartet, que abrem a programação de seis shows, o projeto inclui as apresentações do Aruandê e Wood Surfers, no mês de novembro, e Casa da Dona Alice e Etnyah, em dezembro.
Para fevereiro está previsto show com Búfalo’s D’Água e De Um Filho, De um Cego. Em março, os destaques são Sincopaduo e Mour e, no mês de abril, Aminoácidos e Octopus Trio.
O show de abertura é um encontro de gerações de músicos londrinenses. O Surface apresenta o seu Punk Rock com o mesmo gás e vontade de fazer música, que acompanha a banda, há mais de duas décadas. Diogo Morgado Quartet vem com o suingue de composições próprias e releituras de clássicos.
As duas bandas destacam a importância de projetos, como o Banda Nova, para a cena musical de Londrina ao valorizar e incentivar a produção da região.
“O Banda Nova é muito importante porque mostra a música autoral que é feita aqui. Londrina não valorizou ainda a música que é feita na cidade. Para divulgar o terceiro CD, ‘Desafio’, eu fui a vários municípios, jornais, revistas, entregando o material para produtores. Conheci um pessoal de Belém do Pará. Contaram que foram numa rádio e disseram que não tinham dinheiro para gravar um CD. A rádio convidou a banda para gravar em seu estúdio e passou a tocar a música dos caras. O que aconteceu? Eles faziam guitarrada misturada com Rock e viraram uma coisa louca. Começaram a tocar muito, o cachê aumentou, vendendo 300 CDs por semana. CDs feitos de maneira precária, porém, foram amparados pela cidade. A mídia e o público ampararam. A gente não tem isso em Londrina”, afirma Cientista ao avaliar a importância de projetos como o Banda Nova.
Diogo Morgado destaca que a maioria dos grupos têm apenas bares, como espaços de apresentações.
“Enquanto banda, achamos o projeto tão legal, que vamos tentar fazer um vídeo para termos um material, a partir da apresentação. Muitos dos lugares que a gente tem para se apresentar são bares e a questão de ser no teatro dá outra cara, outra vibe. Acho que essa iniciativa ajuda todos os artistas da cidade”, ressalta Diogo.
Mais sobre o Banda Nova
As primeiras edições do Banda Nova aconteceram no Bar Valentino, na Concha Acústica, circulando ainda por outros espaços.
Já passaram pelo projeto mais de 150 bandas e cerca de 600 músicos. O Banda Nova faz parte da história de músicos, alguns com destaque nacional, como Cluster Sisters, Vitor Conor, Maracutaia do Samba, The Brotherhoods, Marujo Cartel, Bemol Blues Band, Samba 172, Castores e Patos, MC Sergin, Marquinhos Diet, Lobisomem, Mucambo de Banto, entre outros.
Surface, a história do Punk Rock londrinense
O Surface está aí, há 21 anos, mas sempre novo e preparado para o confronto entre músicas que vão direto ao ponto, andamentos rápidos, riffs agressivos e os vocais melódicos e lirismo de suas letras. É o que se pode afirmar, sem medo de erro: o Punk Rock de raiz londrinense.
A banda já passou por várias formações. Uma sobrevivente do movimento, que nasceu nos Estados Unidos e Inglaterra, nos anos de 1970, e chegou até aqui pela resistência de Cientista. O líder do grupo caiu meio que de paraquedas para ocupar o banquinho da bateria no grupo só de mulheres, lá na formação original em 1997.
Ele acabou ficando até hoje, conseguindo fazer com que o Surface mantenha o frescor de uma rebeldia tão necessária para estes tempos.
Mas quem é Cientista? A história do músico e da banda são uma só. Mais do que isso, o cara merece um lugar na galeria da música e cultura de Londrina.
Além do baterista, integram o grupo, Jéssica (vocal), Cláudia (baixo/vocal), Eduardo (guitarra) e Luís Fernando (guitarra).
“Estamos com dois vocais femininos, que se completam nas nossas músicas, que falam de experiências de vida, do cotidiano e igualdade entre as pessoas”, explica Cientista sobre esta nova fase do Surface.
Nesses anos todos à frente da banda, Cientista diz que a capacidade de sobrevivência do Punk conquista novos fãs do estilo, que ganhou uma roupagem mais pop com o surgimento de bandas como Nirvana, Green Day e Offspring. Porém, continua o velho e bom gênero de sempre.
“O Punk é um estilo de música que qualquer um pode fazer. Eu sempre achei que queria tocar, mas achava que não tinha dom. Falei o que é isso, Punk! O que é isso, uma nota, duas notas! É isso que eu consigo fazer. Isso me conquistou e me empoderou. Me levou a ser protagonista da minha história. É isso que a gente sempre faz. Colocar arte como forma de expressão, união. Hoje, eu quase nem saio de casa. O tempo que tenho é para produzir os meus CDs, DVDs e shows que fazemos”, conta Cientista.
O Surface já lançou quatro CDs, um DVD, um CD split, participando de várias compilações, inclusive na Argentina, França e Rússia. Em 2007, o CD “Desafio” esteve entre os seis melhores álbuns do ranking Álbum Punk/Hardcore da Revista Dynamite. Foi lembrado por 300 jornalistas e produtores do País, figurando na lista com bandas como Ratos de Porão, Fresno e Dead Fish.
“Foi um reconhecimento importante do nosso trabalho. Uma banda do interior, que teve a oportunidade de participar da entrega da premiação ao lado de artistas, como Seu Jorge e Tom Zé”, lembra o músico.
A trajetória do Surface vem sendo registrada por Cientista, que grava em vídeo todo show da banda. Garante também a sobrevivência dessa história com a regravação do CD “Redenção”.
“Para mim tudo é registro. Fazemos do nosso trabalho, o nosso sonho que a gente realiza e mostramos para as outras pessoas que é possível realizar o que sonhamos”, ressalta.
No show do Projeto Banda Nova, o Surface vai tocar algumas músicas do “Redenção”. Antes de cada som, contará a história da canção.
“No palco essas músicas são mais do que dizem as letras. O nosso gestual, tudo ganha sentido. Tudo é sentimento”, conclui Cientista.
O suingue de Diogo Morgado Quartet
Sente só esse groove, diz logo de cara quem escuta Diogo Morgado Quartet. É um som rasgado, meio funkeado e de um suingue absoluto. O grupo, que surgiu como um trio, ganhou mais musculatura musical com a chagada do quarto integrante, caprichando em um repertório de releituras e composições próprias.
Com pouco mais de dois anos, o Diogo Morgado Quartet é formado pelo músico que dá nome ao grupo, se encarregando do vocal e guitarra. Guilherme Paiva (baixo), Vinícius Lordelos (bateria) e Denis Menezes (teclado) completam o quarteto.
“O Denis foi o último a entrar para o grupo. Artisticamente, eu me senti mais à vontade porque, todo o meio entre a bateria, baixo e vocal, a responsabilidade era minha. Agora, eu posso me soltar muito mais. Para mim foi uma descoberta a chegada de um tecladista. Mudou a sonoridade da banda e me encontrei muito mais como músico”, lembra Diogo.
Ele conta que a nova formação também surgiu com a ideia de gravar um EP com quatro músicas.
“Decidimos gravar quatro músicas. São releituras de ‘Foxy Lady’, de Jimi Hendrix, que a gente brinca até que se chama ‘Foxy Funk Lady’ porque funkeamos o negócio. Ficou meio dançante. Outra é do The Meters. Um instrumental que também tem essa pegada de funk. Grande parte da proposta da banda é fazer isso, um groove, suingado, dançante”, afirma o músico, acrescentando que esse repertório inclui Tim Maia, Stevie Wonder, entre outros.
Diogo e Guilherme Paiva ficam responsáveis pela composição das músicas próprias da banda. Canções que estarão no show do Sesi e que trazem um pouco da característica de cada um dos integrantes.
Diego diz que fazem música, pensando sempre como uma expressão pessoal e de liberdade.
“A gente decidiu tocar músicas próprias e conforme tocávamos músicas dos outros a gente também dava essa característica nossa. Como funciona isso? A gente decide o repertório coletivamente. Estilos de música que todos se identificam. Entramos em estúdio e cada um dá a ideia na hora. Vai e tenta. Às vezes dá certo outras não. Uma música muito marcante dessa safra é um reggae do Bob Marley. Não deixou de ser um reggae, mas ficou muito diferente. Tão a nossa cara. A cara de cada um”, conta Diogo.
Realização: Funcart em parceria com o Centro Cultural Sesi/AML. Patrocínio: Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). Apoio Rádio UEL FM e Canal Bom Negócios.
Asimp/Funcart
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