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Na sombra de uma Amoreira, num barranco à beira do rio, dois amigos estão preguiçosamente pescando naquela tediosa tarde ensolarada.

Enquanto um dos rapazes mastiga o caule de um ramo de capim no canto da boca, o outro enrola um cigarro de palha vagarosamente.

O marasmo de um dia ruim de pescaria com as varas imóveis, fincadas no chão, é quebrado apenas por algazarras de passarinhos nas árvores ao redor ou por algum comentário breve do dia a dia daqueles dois matutos despreocupados.

— Compadre, estava aqui pensando e acho que vou começar a jogar tênis.

O amigo que se preparava para acender o cigarro de palha fica imóvel, olhando desconfiado para seu compadre:

— Como é que é?

— Ontem fui tomar uma pinga no Pasqualino e tava passando um jogo de tênis na televisão. Já que não tinha nada melhor pra fazer, fiquei vendo aquilo. E não é que achei interessante!

O amigo da uma baforada no cigarro, tosse e depois solta uma cusparada.

— Mas ocê sabe como que joga esse tal de tênis?

— O Pasqualino tava me explicando. Primeiro a gente precisa de um lugar pra jogar, e pode ser de terra ou de grama. Aí pensei, no campinho de terra atrás da igreja tem lugar que tá com grama e lugar que tá com terra, então, é perfeito.

Outra baforada, outra cusparada e o amigo curioso quer saber mais.

— A rede, a gente pode pegar aquela velha que eu uso pra pescar lambari, a gente estica ela no meio do campinho e tá resolvido o negócio.

As varas continuavam imóveis e nem o vento tinha disposição de soprar.

— O mais complicado é a tal da raquete, mas a gente pode improvisar com duas frigideiras. O formato da raquete e da frigideira é igual.

Levantam as varas e observam que as iscas estavam intactas.

— A bolinha a gente usa aquelas de meia que a gente fazia quando era moleque pra brincar.

O amigo começa a se empolgar com a ideia de jogar tênis. Joga o toco do cigarro de palha fora:

— Compadre, gostei desse negócio de tênis.

Estavam decididos e ansiosos, mas o amigo pensa um pouco.

— Compadre, não vai dar para jogar tênis não!

— Por quê?

— Porque a gente não tem tênis uai! Só tem botina.

— É verdade compadre. Com botina não é tênis...

Os dois ficam em silêncio, observando o rio tranquilo e as varas imóveis, enquanto um deles começa a enrolar outro cigarro de palha, vagarosamente.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino - rodrigojacutinga@hotmail.com

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