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Os morros em torno da cidade ficam escuro, na direção onde o rio principal corta rumo à cidade vizinha. Rapidamente as nuvens negras vão se aproximando. Uma tempestade não demorará a cair. 

Enquanto isso, seu Aristeu, um velho matuto que morou muito tempo na roça observa a serra e tranquiliza seus vizinhos, numa conversa de calçada.

— Do rio a chuva não passa!

— Sei não. Tem certeza seu Aristeu? Parece que dessa vez vem chuva brava!

— Vai nada fio. Quando a chuva chega no rio, ela para e vorta pra trás.

Fiquei imaginando como isso seria possível. Como um torrencial aguaceiro que despenca das nuvens pode simplesmente se aproximar de um rio e parar do nada. Será que a chuva teria medo de se molhar? Alguma coisa nessa história não estava certa.

— Mas seu Aristeu, o que tem a ver o rio?

— A chuva respeita o rio. 

Como assim? Por quê? Será que o rio é o pai da chuva, só pelo fato de as águas da chuva já terem sido água do rio no passado, e futuramente voltarão a ser água de rio novamente? Será que existe esse parentesco?

— Olha lá seu Aristeu! A serra está preta. Vai cair uma pancada na cidade!

— Vai nada. Pode ficar tranquilo que do rio a chuva não passa.

Realmente a chuva estava demorando para chegar. Mas, uma ventania fazia as árvores uivarem e folhas voarem para todo lado.

— Esse vento vai trazer a chuva. Só espero que não seja chuva de vento. Crendeuspai!

— Pode ficar tranquila dona Maricota. Do rio a chuva não passa.

As nuvens escuras pairavam sobre o céu, enquanto uma espessa cortina branca caía sobre toda serra. Relâmpagos brilhavam a toda hora e trovões chegavam aos ouvidos alguns segundos depois.

— Chuva de raio é perigoso. Melhor tirar as coisas da tomada, cobrir o espelho e guardar as tesouras.

— Não se preocupe dona Afonsina. Do rio a chuva não vai passar.

Alguns pingos começam a cair. Logo depois vem o aguaceiro. Raios, trovões, vento e até granizo. O dia se tornou noite e a chuva se tornou tempestade. Casas foram destelhadas pelo vento, carros amassados pelas pedras de gelo, uma calamidade. Quando a chuva finalmente cessou, os vizinhos saíram na calçada.

— Seu Aristeu. O senhor disse que a chuva não viria. Olhe só a desgraceira que a chuva fez!

— É assim mesmo fia. A chuva não costuma passar do rio. Mas quando passa, pode esperar que vem chuva brava.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores. rodrigojacutinga@hotmail.com

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