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O renomado deputado federal Almir Farinha de Andrade recebe o companheiro de partido e deputado estadual, Samuel Soledade Gusmão para tomarem um delicioso café da manhã em sua mansão. Entre um pedaço de queijo suíço e um gole de suco de laranja, o deputado Farinha, comenta:

- Nobre colega. Não sabe como me sinto bem nesta manhã!

- Ora nobre deputado. Eu também me sentiria bem na sua situação. Afinal de contas, o governador está por lhe indicar para o senado.

- Isso para mim é coisa pequena.

Samuel Soledade fica curioso, o que mais poderia ser melhor que uma indicação para o senado.

- Há algum tempo tenho um sonho. É um sonho incrível, desses que a gente precisa transformar em realidade a qualquer custo.

- Que sonho é este nobre colega? Por acaso quer se candidatar ao governo do estado?

- Não! Estou pensando em ser preso! O que acha?

Silêncio.

- Como assim ser preso? Quer dizer... preso mesmo, numa cadeia, camburão, Polícia? ...

- É claro! Tenho sonhado com isso há muito tempo.

O deputado federal se levanta com ar de deboche.

- Você deve estar louco caro colega. Você sabe que um deputado não vai preso.

- Não! Eu vou ser preso nesse país nem que a vaca tussa!

- A gente rouba o povo, legisla a favor próprio, recebemos propina de meio mundo, subornamos, superfaturamos dinheiro de obras públicas... e nunca fomos presos. Como é essa sua ideia fantástica para ser preso?

- Hoje em dia a melhor coisa para roubar do povo é a Previdência. Roubar velhinhos aposentados e doentes dá o maior Ibope.

- Impossível!

- Mas eu vou roubar na cara do povo. Todo dia se for preciso, roubo de dia e de noite, roubo até na fila do INSS à mão armada se for preciso.

A tarde Samuel Soledade vai embora indeciso, duvidando da estratégia do nobre colega para ser preso.

Na outra semana os jornais estamparam a manchete:

Deputado federal desvia mais de cem milhões da Previdência.

A notícia abalou toda a população. A Polícia Federal interveio junto com o Ministério Público, mas depois de dois meses de investigações, ficou constatada a isenção do deputado Farinha nesse escândalo. Mesmo que o deputado jurasse de pé junto que era o responsável pelo desfalque. Segundo o juiz, o deputado havia sido um joguete da oposição e que sua reputação era inquestionável. Sem desanimar, Almir Farinha, tentou ser preso outra vez, e novamente desfalcou a Previdência. A imprensa noticiou os fatos, foram apresentadas provas, parecia que o deputado iria realizar seu sonho. Mas os juízes decidiram arquivar o caso.

Passados alguns meses, os amigos, deputados Samuel Soledade e Almir Farinha se encontraram novamente na mesma mansão.

- Não disse que o nobre colega nunca seria preso neste país?

- Não é justo colega. Também sou um cidadão. Por que não posso ir preso como qualquer pessoa normal?

- Porque nós somos políticos!

- Que sina maldita. Por que não segui os conselhos de minha mãe quando dizia para não me meter com política!

Almir Farinha chorou muito naquele dia.

No ano seguinte, era eleito senador, com uma contagem impressionante de votos. Seu partido até pensa em trabalhar para que se torne presidente da República. Enquanto isso, o senador vai roubando na cara de todo mundo. Afinal de contas, roubar faz parte da rotina de um político bem-sucedido.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores - rodrigojacutinga@hotmail.com

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