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Cultura 07/12/2018  10h00

Dançando histórias

Ballet de Londrina completa 25 anos e convida o público a acompanhar a transformação de sua linguagem por meio uma coletânea de trechos de suas peças no Teatro Ouro Verde. Apresentação gratuita acontece no sábado.

O tempo é sempre relativo. 25 anos pode parecer pouco a partir de determinadas lentes históricas, mas se multiplica em intensidades quando representa a idade de uma companhia de dança em um país que pouco prima pela cultura. Se acrescentarmos que é um grupo do interior do Brasil, de linguagem experimental e sediado em uma cidade com pouco mais de 80 anos, a história ganha ainda mais singularidade. O Ballet de Londrina chega ao seu quarto de século e conta um pouco desta trajetória de resistência no espetáculo “25 anos”. A apresentação única e comemorativa acontece neste sábado, dia 8 de dezembro, às 16 horas, no Teatro Ouro Verde. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre.

A ideia é reunir, em um programa de uma hora, trechos das montagens mais emblemáticas de sua trajetória e exibi-los cronologicamente para uma percepção das profundas revoluções de linguagem pelas quais o grupo passou até conquistar um lugar só dele na dança brasileira. Com narração ao vivo de curiosidades que envolvem a criação e o percurso do Ballet de Londrina, o espetáculo conduz o espectador por uma viagem que começa no início da década de 90 e vai até o futuro, com a amostra de um pequeno excerto de uma montagem inédita que o elenco estreia em 2019.

“Precisamos comemorar, porque estamos vivos, apesar de todas as dificuldades da caminhada. É preciso festejar por estarmos há tanto tempo com a cidade de Londrina. Um bom trabalho em arte só se constrói com tempo, persistência, esforço e perseverança – e estas são características do Ballet”, comenta Leonardo Ramos, diretor da companhia, que assumiu a função num repente. Isso porque, nove dias antes da estreia do primeiro trabalho – chamado “Um Ex e Dois Futuros” – o coreógrafo Marcos Leão, que idealizara a companhia, faleceu em um acidente. Ramos, seu braço direito, teve de assumir instantaneamente a direção do grupo, que estreou em 9 de dezembro de 1993, véspera do 59º aniversário de Londrina. O público presente no Ouro Verde neste sábado vai ter a oportunidade de assistir a um remake do primeiro duo apresentado naquela noite dolorosa, chamado “Um Ex...”.

Deste princípio neoclássico, a companhia dá um salto para o contemporâneo, sua linguagem definitiva, com “...à Cidade” (1996), coreografia pulsante realizada ao som de Astor Piazzola e com inovações, como o uso da dança aérea. Na sequência, a coletânea inclui trecho de “Nunca” (2001), montagem polêmica sobre as necessidades essenciais do homem e um questionamento sobre o que teria lhe restado de autêntico.  De 2007 e 2010, respectivamente, estarão presentes partes de “Decalque” e “A Sagração da Primavera”, peças que consolidaram o lugar do Ballet de Londrina como inventor de uma linguagem singular, caracterizada pelos movimentos horizontas e pela busca de inéditos eixos de apoio para os bailarinos.

“25 anos” termina com excertos de trabalhos mais recentes e ainda na memória dos espectadores londrinenses – “Sem Eira Nem Beira” (2013), inspirado na fé e nas tradições brasileiras a partir do Movimento Armorial, e “Oração Pelo Fim do Mundo” (2017), retrato pungente de um presente de dor, que teima em sufocar as diferenças. O prenúncio de futuro fica por conta de um pequeno trecho de “Pro Dia Nascer”, nome provisório da montagem que está sendo preparada para o ano que vem.

Colocadas assim, lado a lado, as coreografias evidenciam a versatilidade da companhia. “O (crítico de dança) Roberto Pereira (1965-2009) me aconselhava para não continuar fazendo o que já sabíamos fazer muito bem. A nossa busca foi sempre pela reinvenção e a cada novo processo surge algo diferente a ser pesquisado. A capacidade de não se repetir fez com que a gente avançasse no tempo”, explica Leonardo Ramos.

Tal renovação não é apenas uma característica temática ou de linguagem, mas se reflete também nos bailarinos. Atualmente, o elenco de doze dançarinos é composto por jovens profissionais, que dividem o palco com veteranos como Marciano Boletti (ensaiador, que assina algumas direções com Ramos), Viviane Terrenta, Alessandra Menegazzo e Nayara Stanganelli. Eles contribuíram com o diretor na escolha da coletânea e na lembrança dos movimentos - que foram ensinados aos bailarinos mais novos. “Tivemos que recorrer até a vídeos em VHS, que eles nem sabem o que é”, brinca Leonardo.

A apresentação de sábado terá a participação do dramaturgo e ator Renato Forin Jr., que fará a narração de textos com a contextualização dos espetáculos enquanto os bailarinos transformam-se às vistas do público, trocando de figurinos em uma arara no próprio palco. A apresentação integra a programação especial de 84 anos de Londrina. O Ballet é a companhia oficial da cidade e possui convênio com a Prefeitura Municipal.

Renato Forin Jr./Asimp

#JornalUnião

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À Cidade (Ballet de Londrina) - foto de Divulgação.jpg
Decalque (Ballet de Londrina) - foto de Mario Bourges
Sem Eira Nem Beira (Ballet de Londrina) - foto de Mariana Hertel

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