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Sem financiamento público ou apoio de grandes empresas, três jornalistas de Londrina apresentam no próximo dia 26, no Sesc Cadeião (R. Sergipe, 52) em Londrina, o vídeo documentário "Ilha Mutum – a História dos Pescadores sem Rio”. As captações e entrevistas foram realizadas entre os anos de 2005 e 2006 e a primeira exibição ocorreu em abril deste ano, na praça à beira rio do município de Porto Rico , para os pescadores retratados na obra.

"Ilha Mutum" tem como personagens principais os moradores de ilhas do Rio Paraná e traz um registro complexo de um estilo de vida já quase extinto no Brasil. São pescadores e lavradores que desenvolveram, ao longo de décadas, uma sociedade autossustentável à beira do rio, plantando e pescando para sobreviver, e que foram drasticamente afetados pela construção de usinas hidrelétricas e pela aplicação desproporcional de leis ambientais a partir da primeira década do século XXI. O filme também mostra a transformação das ilhas em áreas de lazer para turistas de alta renda, ao mesmo tempo em que os ilhéus foram expulsos por, supostamente, ocuparem as áreas de forma irregular. Há algumas décadas, as 10 ilhas próximas ao município de Porto Rico chegaram a ter 490 famílias. Atualmente, o número de moradores foi reduzido a quase zero.

Com 71 minutos de duração, o vídeo foi produzido e dirigido pelos jornalistas Fábio Cavazotti, Marcelo Frazão e LorianeComeli, com participação dos jornalistas Luciano Paschoal, Fabrício Azambuja e Paulo Yamagute, do fotógrafo Carlos Bozelli, trilha sonora do músico Marco Tureta e finalização de Thiago Freitas.

Personagens

O filme traz registros de vida de personagens como Zé Mineiro, um matuto forte e trabalhador que jamais teve energia elétrica, e que resistiu às ordens judiciais para deixar as ilhas, preferindo permanecer no local para criar seus porcos e galinhas, com os quais sustentou numerosa família que hoje mora nas cidades. Tem dona Sebastiana, uma senhora analfabeta que chegou a morar na região de Londrina na época do café e que criou toda a família com a fartura oferecida pelas ilhas de outrora. O espectador também sairá para jogar a rede no rio com os pescadores Alvino e dona Dinha, casal que enfrentou todas as dificuldades impostas pela justiça e autoridades ambientais para continuar com o único ofício que aprenderam em vida, e seo Otávio, o líder dos pescadores, que empreendeu todos os esforços possíveis junto às autoridades para preservar o modo de vida e a sobrevivência de sua gente.

Além disso, o vídeo documentário enfoca a transformação ambiental do rio Paraná após a construção das usinas hidrelétricas, responsáveis pela quase extinção dos peixes migradores, através do acompanhamento do trabalho de campo do Núcleo de Pesquisas em Ictiologia, Limnologia e Aquiculturada Universidade Estadual de Maringá (Nupélia/UEM), e também promove uma inusitada visita dos pescadores até a Usina Hidrelétrica Sérgio Motta, pertencente à Cesp, no município de Porto Primavera (SP). Ali, os pescadores conhecem a barragem que ajudou a acabar com os peixes do rio Paraná e tem a oportunidade de questionar seus representantes sobre os prejuízos causados às suas vidas.

História

O documentário Ilha Mutum teve início há 11 anos, com a realização de 10 viagens ao rio Paraná para captação de entrevistas com os moradores das ilhas. Em 2007 e 2008, foi iniciado o trabalho de edição, que permaneceu inconcluso até 2015, quando foi retomado. A finalização do filme veio no início de 2016.

Neste período, cinco personagens e entrevistados vieram a falecer, em especial os mais idosos.

Para os diretores da obra, a exibição do documentário é uma forma de resgatar os valores daquela comunidade e contribuir para a reflexão sobre o tratamento que o país vem dando a comunidades autossustentáveis e tradicionais.

``Aquele lugar foi habitado por pessoas que podem não ter tido a educação formal que temos nas cidades, mas que desenvolveram valores e um modo de vida incrivelmente humanos e harmônicos. Esta história traz grandes lições de vida e um questionamento muito grande para nossa sociedade: qual é o tratamento que devemos aos brasileiros que construíram uma história de vida tão valiosa, rica em simplicidade, plenitude e proximidade com a natureza?´´, questiona Cavazotti.

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