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Afrodescendência, feminilidade e feminismo são alguns dos temas a serem debatidos pelas ativistas  Lívia Natalia, Carmem Faustino e Juliana Barbosa

Durante anos, muitas mulheres tiveram seus feitos profissionais ofuscadas por uma história que preferia destacar os homens como protagonistas. A mesa “Feitio de Viver: Protagonismo de Mulheres”, que o Festival Literário de Londrina –Londrix – realiza hoje, 08, às 19 horas, no Museu Histórico de Londrina, traz para o debate três ativistas que vão falar de poesia e literatura como afirmação da voz e da resistência da mulher negra.

Afrodescendência, feminilidade e feminismo são alguns dos temas que serão discutidos por Lívia Natalia der Souza  Santos, de Salvador; Carmem Faustino, de São Paulo, e Juliana Barbosa, de Londrina.

A baiana Lívia Natália, professora doutora em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde coordena os grupos de pesquisa, que se dedica a estudar a Literatura Negra, vai abordar o papel e as possibilidades das mulheres intelectuais negras na sociedade.

Ela destaca que mulheres negras sempre produziram intelectualidade de muitas formas: nos tabuleiros, casas, igrejas, terreiros, enfim. “Hoje em dia, tenho me interessado, cada vez mais, pelas jovens intelectuais que extrapolam o espaço da academia, que reinterpretam lugares e pré-formam a si mesmas e à coletividade que representam (tanto as suas contemporâneas, quanto as ancestrais) em seu corpo, em sua arte e em suas práticas cotidianas” define Lívia.

Para ela, pensar o feminismo negro é discutir formas de luta, resistência e de saídas coletivas para opressões que articulam gênero, raça, classe, subjetividades e representações simbólicas que produzem danos irreparáveis à população negra. “O lugar de intelectual é pensado como masculino e branco. O desafio é constante, somos incompreendidas na Academia e fora dela. Muitos, inclusive a família, não entendem a escolha de uma mulher que decidiu eleger o exercício do pensamento e da construção do conhecimento como sendo o seu ofício, ou seja, sexíssimo e racismo se abatem sistematicamente sobre nós, mas seguimos lutando, o que quer dizer que, apesar disso tudo, escrevemos, estudamos, ministramos aulas e construímos conhecimentos que fazem a sociedade avançar”, argumenta Lívia Natália.

A pesquisadora e produtora cultural londrinense Juliana Barbosa, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em samba como cultura, vai trazer para o debate o protagonismo das mulheres. Segundo ela, embora o nome de mulheres não apareça tanto na historia oficial com biografias, elas são responsáveis pelo surgimento do processo de formatação da cultura do samba.

“Foi no terreiro delas que aconteceram as festas, onde o samba nasceu. E muitas delas, mesmo que fossem compositoras como dona Ivone Lara, que começou a compor aos 12 anos, não assinavam as composições porque não era bem visto o samba levar a assinatura de uma mulher. Não era muito bem aceito pela sociedade”, complementa Juliana.

Na atualidade, a pesquisadora diz que a situação é diferente. “Vem acontecendo um movimento entre as mulheres, bastante significativo. Há grupos formados sós por mulheres. Hoje temos mulheres compondo, tocando corda, percussão, instrumentos de sopro, tudo que cabe numa roda de samba. Se a gente for fazer uma cronologia, primeiro a gente vê um espaço reservados às mulheres como cantoras nas rodas de samba. Aos poucos elas vão ocupando espaços mais protagonistas como o de compositoras. Um exemplo bem interessante contemporâneo é a Tereza Cristina, que compõem sambas e sambas-enredos para escolas de samba”.

Juliana Barbosa observa também que hoje existe um conteúdo aparecendo nas letras de samba que tem como objetivo contrapor sambas muitos machistas, que historicamente foram compostos.

“No ano passado, a Dorinha do Samba, sambista carioca, organizou um encontro nacional de mulheres na roda do samba. Em vários estados do Brasil foram realizadas rodas de samba num dia específico. Foi interessante, porque se encontrou também neste movimento grupos fora do Brasil, como na Argentina, formado só por mulheres”, contou.

Ao lado de Juliana Barbosa e Lívia Natália estará também à arte-educadora, poeta, escritora, pesquisadora e ativista em São Paulo, Carmem Faustino. Ela vai falar de sua trajetória que é oriunda da periferia de São Paulo e sobre a condição da mulher negra na Literatura que, segundo ela, é um segmento excludente no que diz respeito a gênero e etnia.

“Vamos falar deste cenário cultural periférico de São Paulo, que é muito potente. Muitas mulheres passaram a ter contato com os saraus e posteriormente com a literatura, se percebendo escritoras. Vou mostrar um pouco como a gente se articula, se movimenta no sentido de reverter este cenário de uma literatura muito pouco representativa e diversa”, explica Carmem, que possui formação em Letras, especialização em História da África e Cultura Afra Brasileira. É uma das idealizadoras e articuladoras do Núcleo Mulheres Negras, de vivências coletivas e discussões sobre as questões raciais e de gênero em São Paulo.

Ela estará autografando dois livros do Núcleo de Mulheres -“Samba Escrito”, que procura valoriza a mulher na roda de samba, não a colocando somente na dança ou como passista, mas mostrando  mulheres compositoras, que tocam, cantam que organizam rodas de samba e se articulam como agente transformadoras  da sociedade.  O outro livro é uma coletânea “Inovação ancestral de mulheres negras”, que mostra todo o trabalho social que as mulheres desenvolvem como forma de protagonizar o seu papel.

Asimp/Londrix

#JornalUnião

Carmem Faustino

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