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Músicas, redes sociais e técnicas de audiovisual estão entre os recursos aplicados em sala de aula

Em diversos casos, os alunos ficam dispersos com alguns assuntos nas aulas de Língua Portuguesa. Aí, vem a pergunta: como resolver o problema e tornar o conteúdo atrativo? Nesse momento, entra a criatividade de professores e de professoras. Não basta apenas ensinar a matéria, os metres precisam prender a atenção dos estudantes de forma leve e descontraída.

A professora Camilla Moraes, do Elite Rede de Ensino, tem seus artifícios para tornar as aulas mais atraentes. Ela usa a música como ferramenta no dia a dia. Nos conteúdos de figura de linguagem e função sintática, por exemplo, ela utiliza funks, sertanejos, raps e as canções brasileiras mais escutadas pelos jovens. Segundo a professora, só em escrever as composições no quadro, os alunos já se interessam de maneira diferente pela disciplina. “ Fico mais próxima deles, e isso faz com que tenhamos mais afinidade dentro de sala. Ouso dizer que eles também se sentem importantes por contribuir de forma tão produtiva”.

A mestranda em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) conta que, atualmente, usa mais as canções, mas já utilizou memes das redes sociais e, também, foram bem recebidos. “Futuramente, pretendo incorporar capas de jornais populares como recurso”, revela.

Ao falar sobre cacofonia (vício de linguagem quando uma palavra ou sílaba, em união com outra, forma expressões com sons desagradáveis ou com duplo significado), a professora do Elite traz um trecho de uma música de Marília Mendonça, Morde a boca dela. A cacofonia está no (boca + dela = cadela). Quando o assunto é oração, uma canção do Projota e da Negra Li, do gênero rap, é usada no ensino, “O homem que não tinha nada acordou bem cedo/Com a luz do sol, já que não tem despertador/ Ele não tinha nada, então também não tinha medo/E foi pra luta como faz um bom trabalhador”. Ao analisar a primeira estrofe, já é possível identificar uma oração subordinada adjetiva restritiva “que não tinha nada” quando o compositor caracteriza o tal homem a ser narrado.

Já na hora de falar sobre vocativo (termo utilizado para interpelar diretamente o interlocutor e que cumpre uma função apelativa de 2ª pessoa), o funk entra em ação com um hit gravado pela cantora Anitta, Vai, malandra.

O gosto por aliar ensino e música começou na época em que Camilla era universitária na UERJ. Ela teve um professor que trabalhou a disciplina de Língua Portuguesa com as canções da Anitta. “ Com base nisso, comecei a prestar mais atenção nesse recurso para encaixá-lo nos conteúdos que daria em sala de aula quando eu fosse professora. Na ocasião que comecei a dar aulas na monitoria já usava essa ferramenta. Primeiro, testei em formato de perguntas no Instagram para ver o retorno, os alunos aprovaram”, recorda.

Redes sociais e técnicas de audiovisual também contribuem

A coordenadora de Literatura do Ensino Médio, Joyce Azeredo, também possui seus recursos a fim das aulas ganharem em dinamismo. Como professora de Literatura Brasileira, Redação e Língua Portuguesa, sempre tenta mesclar as áreas durante as suas explicações. “Conto as histórias dos clássicos como se fossem fofocas, dando os famosos ‘spoilers’ tão temidos pelos alunos. Machado de Assis que o diga! Sempre trago exemplos cotidianos que refletem algumas das narrativas, como quando eles postam indiretas nas redes sociais, com suas cismas, assim como as de Bentinho, em ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis”.

Na visão de Joyce, as redes sociais trouxeram para os jovens a possibilidade de se tornarem mais participativos nas questões polêmicas que envolvem a sociedade. Logo, por que não utilizar essa capacidade deles em sala de aula? “Proponho aos estudantes que transformem as grandes obras literárias em curtas, fazendo as adaptações necessárias. No início, eles não simpatizam com a ideia, porque sabem que dará trabalho. Todavia, com as atividades prontas, no dia da apresentação para a turma, é uma grande festa. Em 2021, solicitei que as classes fizessem essas reproduções como se fossem uma postagem de Reels do Instagram. Pedi que imaginassem que aquelas histórias estivessem se passando agora e perguntei como eles achavam que conseguiriam resumi-las em poucos minutos, para postarem nas redes sociais. As adaptações, as jogadas de câmera e os estilos de cortes ficaram incríveis!”, explica a coordenadora do Elite.

Joyce que é graduada em Letras pela UERJ, com especialização pelo Liceu Brasileiro, recorda o seu tempo de escola. “ Em meu ensino médio, estudar linguagens não era tão bom. Produzir redação com tantos critérios, ler histórias com um vocabulário difícil e sem conseguir entender a necessidade daquilo para a minha vida, sempre me desanimou.  Quando cursei a graduação, pensei:  quero fazer diferente.  Hoje, vejo que quanto mais eles leem, mais perdem o medo de escrever. Com essas propostas de aulas e sempre focando em trazer obras literárias, não só as clássicas, como também autores atuais admirados pelos alunos, consigo mostrar que escrever não é um bicho de sete cabeças. O ganho é geral. Todos se dedicam mais e nossas aulas sempre são descontraídas. Eles se sentem parte de tudo isso. Estudar linguagens não se torna uma tarefa chata. O fim de nossas aulas é sempre enfrentado com lamento, pois com ele se vai o momento da reflexão e da diversão”.

Pedro Felipe/Asimp

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