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As eleições chegaram. A população se aglutina em volta dos candidatos à presidência da república. Poucos são os que chamam atenção para a eleição dos deputados federais. Deixam para escolher na última hora. Com isso o clientelismo, cumpadrismo e patriarcalismo chegam ao auge. A maioria dos eleitores não sabe bem o que fazem os deputados na Câmara Federal, na capital do Brasil. O que mobiliza são os nomes de homens que lutam para dirigir o país e melhorar as condições de vida de todos. É a busca, mais uma vez, do salvador da pátria, um super-homem que, sozinho, é capaz de dirigir a nação como um piloto de caça na guerra. O legislativo é entendido apenas com um complemento, para muitos um estorvo, que cria dificuldade para o líder da nação governar. A publicidade também se concentra nos cargos majoritários, por isso resta aos políticos menores recorrerem aos seus currais eleitorais para se perpetuar na deputância. O Brasil está longe de um sistema eleitoral com o voto distrital. Ele não interessa a nenhuma das elites regionais, pois uma de suas características é a identificação do agente em uma república democrática representativa.

As discussões, debates, bate-bocas são em torno dos candidatos à presidência. Por isso os partidos escolhem os candidatos bons de votos, capazes de ganhar a eleição e fazer uma boa bancada no Congresso Nacional. Sabem que é de lá que saem as leis que beneficiam as elites políticas e que também podem brecar a ação do executivo, caso este se disponha a tolher alguns direitos e privilégios que tem origem no passado. De um lado os conservadores se dividem em pelo menos dois grandes partidos que representam o pensamento da direita, favoráveis ao livre mercado e a participação do capital internacional na economia brasileira. Um deles reúne os proprietários de grandes glebas de terras, são refratários a uma reforma agrária, a intervenção do estado na economia, fundação de novas empresas estatais e qualquer mostra de política socializante. Outro é constituído de parte da burguesia urbana, onde despontam os industriais, banqueiros, rentistas e membros da classe média intelectualizada. Na outra ponta o partido populista, apoiado firmemente pelos sindicatos e organizações de trabalhadores, alicerçado por uma elite de inspiração esquerdista, favorável a uma economia nacionalista de aliança do Estado com a burguesia nacional. Acusam o capital internacional de querer explorar as riquezas brasileiras, capitaneada pelo imperialismo americano, o eterno interventor nos assuntos internos da América Latina. Os eleitores mais politizados distinguem as diferenças entre essas correntes, o que não acontece com boa parte da população com baixo nível de escolaridade e participação política. É verdade que as convenções partidárias deixam de ser meros banquetes com os caciques e passam a atos públicos com a participação de populares. A maior parte deles cabos eleitorais, nepotes, filhotes políticos e membros de claques, muitas vezes remuneradas ou conduzidas sem saber o que faziam por lá.

Os militares tem o seu próprio candidato. Pela segunda vez um deles disputa a presidência da república. Analistas dizem que tem pouca chance uma vez que a direita está dividida com outro candidato. A esquerda nacionalista tem um único candidato que propõe desenvolver o país, melhorar as condições do povo, utilizar todo o poderio econômico para preservar as riquezas nacionais através das estatais. Ele promete impedir que as Sete Irmãs abocanhem o petróleo, uma riqueza que pertence a todo o povo brasileiro e não aos acionistas de Wall Street e da City. Apregoa a experiência de já ter governado o Brasil e ser responsável pela fase de intensa industrialização. O PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, tem com candidato para as eleições de 1950, o ex-ditador Getúlio Vargas. Os militares ressuscitam o velho brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN, União Democrática Nacional. O PSD, Partido Social Democrata, organicamente o maior partido do país, lança a candidatura do mineiro Cristiano Machado. A popularidade de Vargas é avassaladora especialmente nas grandes cidades, com apoio principalmente dos operários, que atribuem a ele as leis trabalhistas e os progressos sociais. A campanha se faz através de comícios em praças públicas em todo o país. Vargas reúne grandes multidões e procura ser o mais conciliador possível com o seus antigos opositores. Com isso consegue dividir o PSD. Parte dele abandona o candidato da sigla para apoiar Getúlio. O resultado é a vitória do gaúcho, brigadeiro em segundo e Cristiano em terceiro. O fenômeno de abandonar o candidato do próprio partido e aderir a outra candidatura entra para a história do Brasil como “cristianização “ . Os jornalistas que cobrem o pleito descrevem o fato e se perguntam em suas colunas nos jornais se isso poderia algum dia a voltar a acontecer no país.

Heródoto Barbeiro é jornalista do R7,  Record News e Nova Brasil fm, além de autor de vários livros de sucesso. Acompanhe no YouTube “Por dentro da Máquina” - https://www.youtube.com/channel/UCAhPaippPycI3E1ZRdLc4sg

* Os textos (artigos) aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do GRUcom -  Grupo União de Comunicação.

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