No primeiro ano do pontificado do Papa Francisco, lá em 2013, celebrava-se o “Ano da Fé”, uma proposta da Igreja Católica que lançava o convite para a conversão verdadeira dos seus fiéis. Foi neste contexto que o Santo Padre lançou o que seria a sua marca à frente da Igreja. Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), publicada em 24 de novembro daquele ano, Francisco convocou os católicos a “superar o comodismo e o fechamento para ser uma Igreja em saída”, (EG20).
Com palavras firmes, o Sumo Pontífice pedia por comunidades desprovidas de poder, ostentação e discriminação, que favorecesse o acolhimento dos seus fieis e vencesse as barreiras para chegar até os excluídos e abandonados. O apelo do Papa ressoou pelo mundo e chegou aos corações inquietos de quem esperava uma palavra encorajadora para se colocar à disposição ou intensificar os seus trabalhos missionários.
Um coração que soube absorver com destreza as palavras de Francisco é o de Rosângela Camargo Goanais. Paroquiana da Paróquia Santo Antônio, no jardim Bandeirantes, ela viu que era preciso transpor os muros daquele templo para atender as necessidades dos mais vulneráveis. E assim nasceu a Comunidade Missão Filhos de Maria. Apoiados na carta de São Tiago, onde o apóstolo diz que “a fé sem obras é morta” (Tg 2,26), os membros da comunidade se dividem entre a espiritualidade e a ação social. “O nosso começo foi através da oração, mas com o tempo fomos percebendo que o chamado de Deus para nossa comunidade ultrapassava os limites da nossa paróquia. Compreendemos isso e começamos a desenvolver nossos projetos”, conta Rosângela, fundadora e atual presidente da comunidade.
A Missão Filhos de Maria completou onze anos recentemente e desde que surgiu tem levado alívio para os mais necessitados. “Hoje nós entregamos marmitas, arrecadamos alimentos e agasalhos. Buscamos ser o rosto misericordioso de Deus entre os abandonados e excluídos, aqueles que quase ninguém enxerga. Nossa presença mostra que Deus não se esquece deles”, avalia a fundadora.
Entre as demandas que os Filhos de Maria buscam atender, está a necessidade de oferecer oportunidades para quem deseja melhorar suas condições de vida. Dessa maneira, há sete anos, nasceu a casa social da comunidade. Localizada na rua Serra da Mantiqueira, no jardim Bandeirantes, o local é o ponto de encontro para a realização de oficinas e atendimento aos que buscam ajuda. “Na casa social oferecemos cursos de musicalização, corte e costura, produção artesanal de produtos de limpeza e higiene, além da disponibilização de atendimento psicológico e jurídico, tudo realizado por membros da nossa comunidade ou voluntários que se identificam com nossa missão”, esclarece Rosângela.
Tereza Boaventura Nakano é membro da comunidade e instrutora na Oficina de corte e costura. Para ela, o trabalho realizado na casa social é um caminho para suas alunas desenvolverem novas habilidades e viabilizar oportunidades para a renda familiar. “Aqui eu mostro como é o processo de confecção de lingeries. Com o conhecimento adquirido, elas podem criar suas próprias peças e comercializar como desejarem. Tenho ex-alunas que hoje já conseguem aplicar esta atividade como sua fonte principal de renda”, conta Tereza.
A casa social também é um espaço de oração, abençoada, inclusive, pelo Arcebispo Metropolitano de Londrina, Dom Geremias Steinmetz. No local funciona uma Capela onde são periodicamente realizadas celebrações e encontros para orações. Apesar de comportar as atividades realizadas diariamente, o espaço já não oferece a estrutura ideal para o desenvolvimento do trabalho da comunidade. Mas isso está prestes a mudar, pois a “Terra Prometida” dos Filhos de Maria já está disponível. Após dez anos de tentativas, a comunidade finalmente recebeu da prefeitura a doação de dois terrenos onde será futuramente construída a nova Casa Social. As áreas doadas ficam em frente a sede atual.
Para Rosângela, a nova casa social da comunidade poderá abranger muito mais serviços, oficinas e atividades. “Atualmente pagamos aluguel, mas no futuro teremos a nossa própria casa, acredito que será um novo tempo para nós e para todos que usufruírem dela. Estamos projetando os espaços e queremos um local que seja acolhedor, onde haja caridade, esperança e fé”, avalia. As obras ainda não começaram, mas os Filhos de Maria já sonham com o lugar para onde levarão aqueles trazidos do outro lado dos muros da igreja.
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