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Suzana Mali de Oliveira, professora do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia, coordena diversas pesquisas no Laboratório de Biotecnologia, onde ela e um grupo de pesquisadores, todos seus orientandos, dividem espaço para seus experimentos.

A professora Suzana Mali de Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), coordena diversas pesquisas no Laboratório de Biotecnologia, onde ela e um grupo de pesquisadores, todos seus orientandos, dividem espaço para seus experimentos e, naturalmente, para festejar os sucessos.

Atualmente, ela orienta uma estudante de pós-doutorado em Biotecnologia; três doutorandos (um em Biotecnologia e um em Ciência de Alimentos); e dois mestrandos em Biotecnologia. As pesquisas têm pontos em comum, mas cada uma com seu foco, objeto e objetivos. Além deles, há os alunos de Iniciação Científica (graduação): três da Biotecnologia, um da Biologia e um da Nutrição, quase concluindo sua participação.

Um dos projetos se intitula “Ingredientes multifuncionais ricos em fibras a serem aplicados na nutrição humana – produção, caracterização e análise sensorial”. A ideia é aproveitar ingredientes de resíduos da agroindústria, como cascas e a borra do café, e produzir alimentos para humanos, como pães, e ração animal (notadamente para animais de estimação) ou, ainda, insumos agrícolas.

A professora Suzana lembra que grande quantidade de resíduos é simplesmente descartada ou incinerada, até para a produção de energia limpa. Porém, mesmo os resíduos descartados são ricos em substâncias, como celulose e lignina.

A primeira é uma fibra não digerida por seres humanos, por isso é utilizada em alimentos dietéticos porque não tem valor calórico e dá sensação de saciedade. A lignina é o material aromático renovável mais abundante na Terra e o segundo polímero orgânico mais abundante, depois da celulose. “É um tecido vegetal que atua contra a oxidação e a ação de micro-organismos”, explica.

As pesquisas transformam resíduos em nova matéria-prima para alimentos. São muitos impactos positivos: reduzir o desperdício de ingredientes, valorizar os alimentos e torná-los mais atraentes e saudáveis, agregar valor nutricional e comercial, entre outros. Além disso, destaca Suzana, tudo o que é feito no Laboratório pode ser feito em escala industrial.

“Não é fácil”, diz ela. “Cada resíduo tem suas propriedades e pode ser mais ou menos difícil de manusear ou processar – como o malte e a laranja, muito úmidos. Já outros fermentam facilmente. No laboratório, os resíduos são submetidos a reagentes químicos e processos físicos, com o objetivo de extrair celulose e lignina, e alterar o teor de fibra. Nenhum reagente é tóxico e todos são renováveis”.

Tais procedimentos podem, por exemplo, gerar um ingrediente que tornará o pão mais macio, ou mais apetitoso. E de fato a equipe prepara os alimentos e faz degustações. O objetivo é obter alimentos ricos em fibras, bioativos, com propriedades tecnofuncionais, como a textura e o sabor.

De acordo com Suzana, as pesquisas já renderam não apenas apresentações em eventos científicos e artigos publicados, como também depósitos de patentes: duas referentes à alimentação animal e três associadas à modificação de celulose. No momento, alguns pesquisadores começam a fazer experiências com micro-ondas sobre os resíduos. “A perspectiva é promissora, segundo eles. Seria uma forma de empregar ainda menos reagentes químicos. O uso do calor também não é novidade, pois alguns já utilizavam autoclave”, afirma Suzana.

Conheça as pesquisas:

Jaqueline Bittencourt é uma das doutorandas e desenvolve pesquisas com a borra de café, fornecida a ela por uma cafeteria. A pesquisadora faz a extração de componentes bioativos, como a cafeína, faz um tratamento físico com ultrassom e obtém um material com maior teor de proteína e fibras modificadas, capazes de absorver mais água e mais óleo.

A produto pode ser utilizado na preparação de diferentes alimentos e, dada suas propriedades anti-estresse oxidativo (que previnem cansaço, ansiedade e outros sintomas), atuaria contra morbidades como a diabetes e o colesterol ruim.

Por sua vez, Jéssica Jacinto, que também é doutoranda, trabalha com café. Ela induz os resíduos a modificações químicas e físicas para obter mais fibras com propriedades tecnofuncionais. Em termos mais leigos, ela produziu farinha e fez pão – semelhante ao pão integral, e com significativa diminuição no índice glicêmico, isto é, os carboidratos são absorvidos mais lentamente pelo organismo, os picos de glicemia são reduzidos e demora mais para sentir fome novamente.

O mestrando em Biotecnologia João Otavio Kishima trabalha com resíduos de aveia. Ele extrai a celulose dos resíduos e desenvolve um hidrogel para ser usado na agricultura, mesmo ostensiva, para irrigar solo seco, por exemplo. Com isso, ele atinge também a chamada remediação ambiental, ou seja, a descontaminação do meio ambiente com o uso de materiais biodegradáveis.

Mayara Paiva, doutoranda em Biotecnologia, pesquisa polímeros, especificamente o acetato de celulose. Largamente empregado na indústria, este material pode estar em roupas, fraldas descartáveis, guarda-chuvas, cosméticos, adesivos, armação de óculos, entre muitos outros. Sua pesquisa também gira em torno da aplicação na agricultura e na remediação do meio ambiente.

A pós-doutoranda Janaína Mantovan, por fim, estuda resíduos do bagaço da laranja e lembra que o Brasil é o maior produtor do suco desta fruta, o que garante a geração de enorme quantidade de resíduos. Ela submete o material a modificações físico-químicas com vistas à produção de alimentos ricos em fibras e antioxidantes para animais de estimação. Uma dificuldade é tirar o sabor amargo da fruta. Como ela mesmo sintetiza: “Cada resíduo, um método”.

AEN

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