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Descoberta pode estimular novas ações de conservação dessa espécie criticamente ameaçada de extinção

O trabalho dos pesquisadores do Lactec para a conservação do maior primata das Américas - o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) - resultou em uma descoberta de extrema importância para a ciência: o levantamento de uma nova população da espécie no Paraná. O registro se deu na última semana, no desenvolvimento das atividades patrocinadas pela Copel Geração e Transmissão no Vale do Ribeira, região que concentra parte dos remanescentes de Mata Atlântica no país.  

O muriqui-do-sul ou mono-carvoeiro, como também é conhecido, é endêmico desse bioma e uma das cinco espécies de primatas nativos que ocorrem no Estado. Devido às pressões antrópicas de perda de habitat e caça, a espécie - classificada como criticamente ameaçada de extinção - corre sérios riscos de desaparecer da natureza. Para se ter uma ideia de tamanha ameaça, atualmente, são conhecidos menos de 50 indivíduos da espécie em vida livre no Paraná. 

“Essa é uma notícia extremamente importante para a conservação da espécie e para a primatologia brasileira, pois, desde junho de 2016, não se tinha conhecimento, pela ciência, de uma nova localidade com ocorrência documentada da espécie no Estado”, comemorou o coordenador do projeto pelo Lactec, biólogo Robson Odeli Espíndola Hack. Os dados mais detalhados dessa recente descoberta estão sendo preparados para divulgação por meio de uma publicação científica pelos pesquisadores do projeto. 

Esse é o primeiro grande resultado do Projeto de Conservação dos Monos no Paraná, que o Lactec vem desenvolvendo desde 2015, inicialmente, com apoio da Fundação Grupo Boticário, e, mais recentemente, com a parceria da Copel Geração e Transmissão. A concessionária instituiu um Programa de Monitoramento Demográfico e Genético do Muriqui-do-Sul e os estudos são realizados pelos pesquisadores da área de Meio Ambiente do Lactec. “Essas ações em parceria têm viabilizado a coleta de valiosas informações ecológicas sobre demografia e genética da espécie, seus habitats, além do trabalho de investigação de novas populações e desenvolvimento de ações de educação ambiental no Vale do Ribeira paranaense”, pontuou Hack. 

“Esse excelente resultado reforça a relevância técnica e ambiental dos estudos financiados pela Copel durante o licenciamento ambiental dos empreendimentos de geração e transmissão de energia”, afirma a gerente do Departamento de Monitoramento, Manejo e Controle Ambiental da Copel Geração e Transmissão, Fernanda de Oliveira Starepravo Ferrari. A pesquisa sobre muriqui-do-sul integra as ações de licenciamento da Linha de Transmissão 230 kV Bateia-Jaguariaíva junto ao Instituto Água e Terra (IAT). 

“Resultados como este mostram com clareza como valem a pena esforços integrados para a conservação da natureza. Se a população do muriqui está bem, significa que tem alimento, abrigo e seu ambiente está com condições de abrigar espécies desse porte. É de fato um alento para um ambiente tão importante como a Mata Atlântica”, afirma o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Robson Capretz. 

Próximos passos 

O biólogo Robson O. E. Hack, especialista em mamíferos silvestres e membro do Plano Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira coordenado pelo ICMBio, explica que o registro da nova população no Paraná dá, agora, início a novas etapas do trabalho, que são igualmente desafiadoras para os pesquisadores. Além do monitoramento demográfico dessa nova população da espécie, as atividades de educação ambiental junto aos moradores da região deverão ser intensificadas. “Isso, para que as áreas de floresta nativa existentes na localidade sejam mantidas e que as pressões antrópicas sobre a espécie sejam minimizadas. É importante que os moradores locais reconheçam o valor dessa espécie rara para a natureza e também para a região em que vivem. Assim, haverá um maior engajamento com o projeto nas ações futuras, que poderão ser desenvolvidas em conjunto com a população”, acrescentou o biólogo. 

Além da persistência dos pesquisadores no trabalho de busca dos muriquis-do-sul em áreas de potencial ocorrência da espécie, a ajuda dos moradores da região tem sido fundamental para o projeto, pois eles fornecem informações sobre o avistamento dos animais e seu comportamento. Não há conflito de convivência entre os monos e os produtores rurais, já que a espécie se alimenta preferencialmente de frutos e folhas silvestres e, portanto, não representa riscos às plantações, por exemplo. 

Oportunidades econômicas com a conservação

A descoberta dessa nova população dos monos, no Vale do Ribeira no Paraná, tem um aspecto positivo, também, sob a perspectiva econômica. A atividade de comercialização de madeira de reflorestamentos de pinus e eucalipto, que é predominante na região, associada a ações de conservação da espécie, pode beneficiar os processos de certificação florestal das empresas do setor que atuam na região, agregando valor à madeira e abrindo novas oportunidades de negócio no mercado nacional e internacional.  

“Essa descoberta pode, também, abrir oportunidades de negócios para os produtores rurais da região, pois, por meio do desenvolvimento de projetos de agricultura familiar e da criação de um selo de boas práticas de manejo da terra e de conservação da espécie, seus produtos poderão ser comercializados com um valor agregado no mercado regional”, apontou Hack. 

Outro fator importante, que deve ser considerado como uma grande oportunidade de negócio, é o desenvolvimento ordenado de atividades de ecoturismo para observação dessa espécie rara e das belezas naturais existentes na região. “Além disso, e não menos importante, há os projetos de pagamentos por serviços ambientais, que por meio da restauração de habitats essenciais para espécie, poderão também gerar uma fonte alternativa de renda para os moradores locais. Esses são apenas alguns dos vários exemplos de como a conservação de uma raridade biológica como essa pode favorecer a realização de negócios e auxiliar o desenvolvimento sustentável da região”, acrescentou Hack.

Asimp/ Lactec

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