Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

De acordo com representantes do Crea-PR, cenário pandêmico deixou trabalhadores exautos e mais vulneráveis a acidentes

Durante o mês de abril, órgãos públicos e instituições engajadas nas questões relativas aos acidentes de trabalho aderem à campanha Abril Verde, uma forma de promover a conscientização sobre a importância da segurança e da saúde do trabalhador brasileiro. O mês foi escolhido porque o dia 28 é dedicado à memória das vítimas de acidentes e de doenças do trabalho. Em 1969, uma explosão de uma mina da cidade de Farmington, na Vírginia, Estados Unidos, matou 78 trabalhadores, caracterizando o episódio como um dos maiores e mais conhecidos acidentes trabalhistas da humanidade.

Por isso, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) apoia a campanha com o objetivo de mobililzar a sociedade para a prevenção das doenças decorrentes do trabalho, bem como valorizar a atividade dos profissionais de Engenharia de Segurança do Trabalho. A iniciativa é ainda mais importante no momento pandêmico vivido em todo o mundo. De acordo com Engenheiros de Segurança do Trabalho ouvidos pelo Crea-PR, a pandemia tem deixado trabalhadores exautos, aumentando, assim, o risco de acidentes. Em virtude disso, o investimento em ações e atividades relacionadas à segurança do trabalho são indispensáveis.“Estamos no pior momento  da pandemia. As pessoas estão cansadas. No ano passado, algumas pessoas ainda estavam trabalhando de casa. Atualmente, a maioria está realizando as atividades normalmente, mas totalmente esgotada psicologicamente e, o pior, com medo de ser contaminado. Isso diminui o foco do trabalhador, aumentando o risco. A pandemia trouxe malefícios na saúde física e mental”, avalia a Conselheira do Crea-PR e Engenheira de Segurança do Trabalho, Elizandra Sartori.

Apesar disso, a pandemia gerou um hábito que o trabalhador não tinha anteriormente: o uso de equipamentos de proteção individual (EPI). “Esse cenário construiu a concientização sobre a necessidade desses equipamentos. Infelizmente, algumas pessoas ainda são resistentes quanto ao uso, apesar de obrigatório, mas podemos dizer que a cultura já foi criada e que nada será como antes”, aponta Elizandra.

Outro fator positivo foi a valorização do profissional de Engenharia de Segurança do Trabalho. Empresas, hospitais e órgãos públicos, por exemplo, tiveram que elaborar planos de segurança para minimizar riscos e gerar ambientes seguros para os trabalhadores. “Observo que muitos profissionais da nossa área passaram a atuar em locais onde não havia acesso antes. Percebi também que empresas não só ligadas à saúde precisaram avaliar possibilidades de contaminação, atividades que só podem ser exercidas por um profissional habilitado e capacitado”, cita.

Por outro lado, muitos profissionais deixaram de atuar em atividades habituais, exigidas pela legislação brasileira em segurança e saúde no trabalho. Em março do ano passado, o Governo Federal publicou a Medida Provisória nº 927, na qual suspendeu a obrigatoriedade da realização de exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais. Também foram suspensos, na ocasião, treinamentos periódicos de trabalhadores previstos em normas regulamentadoras de segurança e saúde do trabalho.

Levantamento realizado pelo Crea-PR comprova o impacto:de 2017 até 2019, o mercado de Engenharia de Segurança do Trabalho vinha numa linha ascendente de emissão de ARTs (Anotação de Responsabilidade Técnica) no Paraná. Em 2018, o crescimento foi de 15% em relação ao ano anterior. No ano seguinte, o aumento registrado foi de 11%. Já em 2020, houve redução no número de ARTs: foram emitidas 18.383 contra 21.858 de 2019. A queda foi de 15%. A ART identifica de forma legal, objetiva e rastreável, que a obra e/ou serviço foi planejado e executado por um ou mais profissionais legalmente habilitados pelo Crea, e que cabe exclusivamente a este, ou a estes profissionais a responsabilidade técnica realizados por ambos.

Há profissionais que trabalham com perícias judiciais, elaboração de laudos, documentos e treinamentos em corporações. Por conta dessa medida de restrição, engenheiros ficaram por um tempo parados, embora algumas atividades, hoje com a questão dos agentes biológicos, por exemplo, tenham aberto portas”, comenta a conselheira do Crea-PR.

Pesquisa aponta maiores riscos de acidente por dia e horário

Uma pesquisa realizada em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, traçou um perfil dos acidentes de trabalho ocorridos entre os anos de 2019 e 2020. O levantamento foi feito pelo Engenheiro de Segurança do Trabalho, Engenheiro Civil e Coordenador Regional dos Inspetores da regional do Crea-PR em Ponta Grossa, José Aparecido Leal.

Para a conclusão, foram analisados dados de atendimento do 2º Grupamento do Corpo de Bombeiros e Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Setor de Epidemia da Prefeitura de Ponta Grossa. Em 2020, houve aumento de 122% nos acidentes de trabalho, em comparação ao ano anterior. Para Leal, a principal causa do aumento é a saúde mental abalada dos trabalhadores em virtude da pandemia. “Quem não parou de trabalhar, precisou fazer isso com o psicológico abalado e, com isso, aumentou o risco de acidentes de trabalho”, explica.

Ainda conforme a pesquisa, o dia da semana com maior índice de acidentes é a quarta, com 19,48%, seguido da quinta-feira, com 18%. A maioria dos acidentes aconteceu das 8h às 10h. A segunda faixa de horário com maior risco foi das 14h às 16h. “Geralmente, as pessoas trabalham de segunda a sexta e folgam no sábado e domingo. Na segunda, o trabalhador volta motivado pelo descanso do final de semana, ou seja, a percepção do risco de acidente é maior. Na quarta, o trabalhador reduz a atenção, pois ainda está longe do final de semana. Daí, vêm os acidentes”, afirma.

Em relação à parte do corpo, em todas as ocorrências com acidentes, 42%, foram nas mãos e membros superiores. Em 92% dos casos, as vítimas eram do sexo masculino. “Os acidentes acontecem quando a prevenção falha, por isso, a análise é ferramenta de importância vital para a identificação de causas e ações corretivas para evitá-las ou repeti-las. Diante disso, é preciso que as empresas tomem atitudes proativas no dia a dia, em busca da redução dos acidentes de forma contínua, bem como no aumento da cultura comportamental preventiva dos funcionários”, finaliza.

Asimp/Crea-PR

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.