Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

Grande diversidade da região atrai turismo ecológico, mas também traficantes de animais

Como um dos estados brasileiros que abriga a Mata Atlântica – segunda maior floresta tropical da América do Sul – o Paraná possui uma diversidade de fauna com inúmeras espécies endêmicas ou que só vivem nesse Bioma. Toda essa biodiversidade, aliada às belas paisagens naturais, vem atraindo, cada vez mais, o turismo na região. Entretanto, o estado também tem se destacado, cada vez mais, como rota do tráfico de animais silvestres.

Outro fator que faz com que o Estado chame a atenção de traficantes de animais, é a tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Segundo o artigo ‘O tráfico de animais silvestres no Estado do Paraná’, o local é um dos mais utilizados para o translado dos animais, tanto para a retirada deles do país, quando para a entrada de outras espécies.

Apesar de ter recebido um investimento do governo estadual de um milhão de reais em junho de 2020, para ações de preservação da fauna silvestre, o Paraná continua sendo considerado um dos principais pontos brasileiros do tráfico internacional de animais, de acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas).

Segundo a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) da Polícia Civil do Paraná, foram resgatados ou aprendidos mais de 500 animais silvestres só na capital Curitiba e região metropolitana, de janeiro a agosto de 2019. No Brasil, a soma pode alcançar mais de 38 milhões de espécies contrabandeadas.

O tráfico também gera graves problemas sociais, econômicos, sanitários e políticos. Esta prática costuma estar associada à prática de outros crimes, inclusive alguns transnacionais.

Efeitos

Estudos comprovam que a cada 10 animais traficados, 9 morrem antes de chegar ao destino final. A grande maioria não resiste por conta da falta de cuidados básicos como alimentação e transporte.

Além de trazer prejuízos e ser uma das principais causas de extinção da fauna, o tráfico de animais também pode gerar prejuízos à saúde pública. Em relatório mundial sobre crimes ligados à vida selvagem, a ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que o tráfico de animais pode contribuir com o surgimento de pandemias. De acordo com o documento, 75% das doenças infecciosas são transmitidas por animais contrabandeados. Isso acontece, entre outros fatores, porque animais livres podem transmitir bactérias e vírus ainda não conhecidos pelo sistema imunológico do ser humano, capazes de causar novas ou evoluções de doenças já existentes. Além disso, o contato por meio de ingestão da carne desses animais, mordidas e picadas também podem ser meios de transmissão. O animal capturado tende a ficar doente com maior facilidade, o que, igualmente, é uma oportunidade de transmitir possíveis doenças às pessoas.

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, pelo menos 60% dos animais traficados no Brasil continuam dentro do território nacional. O desejo de se ter animais silvestres como pets de estimação é um dos principais motivos apontados para o comércio ilegal no país e no Paraná não é diferente.

Caça

Para o coordenador das Reservas Naturais da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Reginaldo Ferreira, a caça é um dos principais contribuintes no tráfico de animais e uma das maiores ameaças para a biodiversidade. Para ele, a falta de aplicação das leis é um dos fatores que encoraja a ação ilegal. ‘‘Infelizmente a caça de animais silvestres é uma prática ainda muito frequente na sociedade brasileira, principalmente por ser um país tão rico em biodiversidade’’, diz.

Para combater essa prática, além do trabalho fundamental da Polícia Ambiental e de outros órgãos de controle público, existem as Unidades de Conservação, criadas com o objetivo de proteger e manter áreas naturais por suas características especiais. De acordo com o coordenador, as Unidades são extremamente importantes na luta contra a caça de animais silvestres para o comércio ilegal. ‘‘Essas áreas são geradoras de conhecimento científico. Além disso, ajudam no desenvolvimento da região, podendo gerar renda para as pessoas das comunidades locais, e desestimula práticas ilegais’’, afirma.

Outro fator que influencia o combate ao tráfico de animais e é a educação ambiental. Para a técnica em Educação Ambiental da SPVS, Solange Latenek, é preciso transformar o entendimento de que o animal silvestre é um objeto. ‘‘Com a educação ambiental, entre outras coisas, nós mostramos que os animais não estão ali para servir, para enfeitar ou para que as pessoas consigam dinheiro com eles’’, diz. ‘‘Essa é uma visão que vem da desconexão que a sociedade tem com a natureza’’, declara. ‘‘A educação ambiental promove a reconexão da sociedade com a biodiversidade e o entendimento de que fazemos parte de um todo, e que essa relação de afeto é de respeito e não de posse, de uso ou de recurso’’, finaliza.

Punições

Apesar de ser considerado a terceira maior atividade ilegal do mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e de armas, o tráfico de animais silvestres tem consequências. Além da multa para quem for pego traficando – que pode variar de 500 a 5 mil reais, a depender da espécie traficada e do seu grau de ameaça na natureza – há também as punições mais severas como a prisão.

Quem tiver ciência de comércio ilegal de animais pode denunciar, anonimamente, pelo telefone do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) 0800 618 080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br. Além disso, no Brasil é possível devolver animais vítimas do tráfico.

É preciso saber também que é possível manter contato com a fauna em vida livre. O turismo ecológico é uma dessas maneiras. Além de educativo, o turismo ecológico pode ser divertido e diferenciado.

Lola Dias/Asimp/PG1

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.