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A vida de oração é composta de etapas e podemos encontrar algumas pistas, até mesmo na Palavra de Deus, para nos valer. São Gregório de Nissa (340 – 394) juntou duas passagens mostrando como a vida de oração é uma crescente, e, ao mesmo tempo, provando como a Bíblia é perfeita, uniforme e sem contradições:

“Sob as aparências de uma escada, (Gn 28, 11-19) foi ensinado ao santo patriarca, (Jacó) que não pode subir até Deus senão aquele que tenha as vistas sempre voltadas para algo mais alto, e não se contente em permanecer nas que já alcançou. A altura das bem aventuranças, umas para com as outras, faz com que aqueles que já receberam algumas delas possam se aproximar de Deus, que é verdadeiramente feliz, constituído e estabelecido acima de toda bem aventurança” (De Beatitudinibus pg. 44, 1247-9). 

É possível sim acalmar a tempestuosidade dos pensamentos por meio da oração. Porém, baseando-se de que a vida espiritual tenha uma crescente, talvez haja um caminho a percorrer para se alcançar essa felicidade.

É necessário acalmar o coração

Pensando um pouco sobre o início da vida espiritual, utilizando-se do Doutor Angélico, São Tomás, e Antônio Royo Marin como seu intérprete, vamos ver como é possível rezar enquanto os pensamentos nos atormentam.

Para ter oração, Royo Marin, citando São Tomás (pag. 603 – Teologia da Perfeição Cristã), diz que o modo de atenção necessária, levando em conta nossa limitação interna e externa, é a atenção virtual. Esse tipo de atenção é a que se tem no começo da oração e, muitas vezes, atrapalhada pelas distrações que nos sobrevêm, voluntárias ou não.

Acalme seu coração! Deus não se irrita com as distrações, desde que a combatamos. Se elas nos atormentam durante a Santa Missa, oração do Santo Terço, Adoração ou oração pessoal, umas 30 vezes por minuto, devemos combatê-las todas as vezes. Segundo Royo Marin, “toda distração combatida (mesmo que não se vença totalmente), em nada compromete o fruto da oração, nem diminui o mérito da alma (pag. 604).

Meus irmãos, no entanto, não podemos ser descomprometidos com a oração dizendo: “será sempre assim”. Nada de “síndrome de Gabriela!”. Há o que se pode fazer para melhorar a qualidade da nossa atenção na oração.

Apesar de existirem causas de distrações que são involuntárias (temperamento, fadiga mental, pouca saúde e até o demônio), existem mil causas que podemos dizer que são voluntárias e que poderiam muito bem serem evitadas. É bom se distanciar de assuntos que nos perturbam demais ou mexem com nossas emoções (raiva, medo, dor), de tal modo que, durante a oração, possam ficar nos atazanando. Por exemplo, a política, notícias e jornais alarmistas, apostas e jogos, redes sociais etc. são ocasiões que podemos excluir, pois não têm um dever de estado. Um monte de coisas que só servem para inquietar o nosso coração e tirar a nossa paz. Essas coisas surgem na nossa mente enquanto procuramos nos concentrar para a oração e ficam como um enxame de abelhas zumbindo e nos atrapalhando.

Preparação remota e preparação próxima

Não só. Existe mais ainda que se possa fazer. Chamamos preparação remota e preparação próxima. A preparação remota é basicamente o que mencionamos acima. É o cuidado de fugir de assuntos e situações que nos roubam a paz.

A preparação próxima é a responsabilidade de criar um momento propício para a oração. É procurar um lugar longe da agitação, de barulhos, de muitas movimentações. É preciso desacelerar o coração, tanto quanto possível, para ter um mínimo de recolhimento. Por exemplo, às vezes, dispomos de um tempo muito curto para a oração. Nossos planos deram errado, algo nos atrasou ou tivemos uma conversa que nos perturbou, tirou nossa alegria, tranquilidade, ou, simplesmente, o tempo acabou, ficando curto por conta de algum contratempo e, logo em seguida, precisamos correr para terminar as obrigações.

Como parar a agitação do coração para ter o mínimo de concentração? Não dá. O mundo e as pessoas de hoje são muito agitadas e ansiosas e, às vezes, entramos nessa loucura também. A preparação próxima é criar o momento oportuno para a oração. Um momento onde o coração está tranquilo para se recolher. Por exemplo, é bom procurar um horário em que a mente está tranquila. Para muitos, levantar mais cedo é excelente. Para outros, na hora de dormir é melhor. Porém, há outros que, na hora do almoço, conseguem desligar-se totalmente!

É muito importante ter ações voltadas para evitar esse aceleramento interno e externo, caso contrário, não há mágica para, de uma hora para outra, entrar numa profunda oração desligados de todo o mais. Preparação remota e preparação próximas se entrelaçam para nos ajudar a ter um momento de oração com menos distrações.

A coisa mais importante da sua vida

Dessa forma, nos voltamos para a proposta inicial: como acalmar os pensamentos por meio da oração? Ora, com tudo o que foi dito acima, vemos um círculo, em que procuramos nos esforçar para ter um coração mais calmo para a oração e, ao mesmo tempo, com uma oração mais serena e cheia de fé, teremos os nossos pensamentos acalmados pela experiência de Deus mais concreta e profunda vividas pelos momentos de oração. Será certamente uma oração mais intensa e consoladora para a mente e o coração. Possivelmente, conseguiremos sintonizar melhor no coração de Deus, desde uma oração pública como a Santa Missa ou o terço em família, como num momento de mais intimidade

como a oração pessoal, o Estudo da Palavra ou a adoração ao Santíssimo Sacramento.

Poderemos trilhar o caminho de elevação da oração para níveis mais profundos, associados a uma busca sincera por uma vida virtuosa, fugindo dos pecados e das ocasiões de pecado, com uma vida sacramental frequente. Chegará o momento que não haverá situação que nos tire da presença do Senhor, quer seja nos momentos de parada para rezar, quer seja no cotidiano de nossa vida. Colocaremos em prática um modo de viver de uma oração ao ritmo da vida, onde não nos afastamos mais, nem um minuto sequer, a nossa mente da presença de Deus.

Deus abençoe você e não deixe de colocar a oração como sendo a coisa mais importante da sua vida!

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.

Autor do blog “Ad Veritaten“.

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