Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

Tabagismo causa doenças conhecidas no pulmão, mas também afeta coração e está ligado ao câncer de bexiga; médicos explicam os males

Conscientizar sobre os malefícios do tabaco para a saúde. Esta é principal proposta do Dia Mundial sem Tabaco celebrado nesta segunda-feira, 31.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Desse total, mais de 7 milhões são ocasionadas pelo uso direto do tabaco e cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.

No Brasil, o percentual de adultos fumantes vem caindo nas últimas décadas. Em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN). Os dados mais recentes do ano de 2019, a partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), apontam o percentual total de adultos fumantes em 12,6 %.

Cigarro e as doenças cardiovasculares

O câncer de pulmão é um dos problemas mais conhecidos atrelados ao tabagismo, mas não é o único. Fumar afeta negativamente vários sistemas do corpo humano, causando sérios danos também ao coração.

“O tabagismo é um dos fatores de risco que influencia demais no desenvolvimento, ocorrência e piora da doença cardiovascular”, afirma o cardiologista Hélio Castello.

Ele explica que o cigarro aumenta a chance de depósito de gordura nos vasos, o que causa obstruções que podem levar ao infarto e AVC. Também influencia no aumento da pressão arterial. “Isso sem contar problemas vasculares periféricos, como obstrução de artérias. Aumenta a chance de disfunção sexual masculina”, acrescenta o médico.

Vários componentes do tabaco podem aumentar a coagulação do sangue, o que também favoreceria os problemas citados. Outro efeito é o aumento da frequência cardíaca, o que constitui um mecanismo de defesa do coração para a diminuição de oxigenação no pulmão por inalar a fumaça do cigarro. E isso ocasiona uma sobrecarga no coração, já que, na prática, o órgão precisa trabalhar mais.

“É tudo um mecanismo interligado, onde os componentes do cigarro fazem mal em várias partes do nosso corpo e principalmente no aparelho cardiovascular e respiratório”.

Os prejuízos não são só para quem fuma, mas também para as pessoas ao seu redor. É o chamado “fumante passivo”. “Hoje, já existem estudos mostrando que adultos, jovens e até crianças que vivem com fumantes que esses usam cigarro próximo deles têm maior chance de desenvolverem doenças próprias do cigarro”.

Tabagismo e o câncer de bexiga

“Sabemos que em torno de 50 a 70% dos pacientes que desenvolvem câncer de bexiga têm relação direta e indireta com o cigarro. Tanto o paciente fumante ativo como o passivo têm mais ou menos a mesma predisposição em relação ao desenvolvimento do câncer de bexiga”, explica o dr. Fernando Leão, urologista e cirurgião robótico.

Câncer de ureter e renal também têm uma ligação direta com o tabagismo. Dr. Leão lembra que o cigarro é composto por cerca de 40 a 50 substâncias que são extremamente nocivas, estimulando o surgimento de câncer.

Uma vez inaladas, essas substâncias tóxicas passam pelos pulmões, são absorvidas na corrente sanguínea e, no sangue, vão percorrer todos os sistemas do nosso organismo. O sangue será filtrado nos rins e esses elementos nocivos serão eliminados na urina.

“Como a urina fica armazenada na bexiga, esse tempo de armazenamento geralmente é propício para que, em contato com a parede da bexiga, essas substâncias gerem um processo inflamatório nessas células superficiais da bexiga e desse processo inflamatório existe predisposição de transformação em células cancerígenas”, explica dr. Leão.

O urologista ressalta que todo esse processo demanda tempo, que está diretamente ligado ao tempo de exposição ao cigarro. Também tem relação direta com a predisposição genética que algumas pessoas têm ao desenvolvimento de câncer, seja ele qual for.

Parando de fumar

A nicotina tem um alto poder viciante e por isso mesmo o tabagismo precisa ser encarado como uma doença, explica dr. Hélio.

Para parar de fumar, ele cita como fundamental a força de vontade. O mesmo é ressaltado pelo urologista, que destaca a importância do paciente se conscientizar sobre as consequências do tabaco.

Também são importantes nesse processo o apoio da família e amigos, além de acompanhamento psicológico e atividade física. Os médicos lembram que ainda há recursos como medicamentos, chicletes e adesivos que vão controlar a ansiedade e tirar a dose de nicotina aos poucos. “Parar de fumar não é fácil, e é importante ter um acompanhamento multiprofissional e ter muita gente apoiando”, frisa dr. Hélio.

Existem equipes multiprofissionais e multidisciplinares especializadas em grupos antitabagismos. Quem recorda é o dr. Luciano Curuci, ginecologista, acupunturista e especialista em dor. Ele lembra, inclusive, a existência desse trabalho pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“A Acupuntura também entra como uma das ferramentas terapêuticas para que se possa controlar essa ansiedade e ajudar o paciente a parar de fumar, ou pelo menos começar iniciando gradativamente, diminuindo a quantidade de números de cigarros por dia que esse paciente fuma”.

Dr. Luciano explica que a acupuntura ativa áreas do sistema nervoso central, aumentando e liberando endorfinas, o que leva a uma diminuição da ansiedade. “A Acupuntura também auxilia no padrão de sono dos pacientes (diminuição de insônia) e promove um equilíbrio em doenças crônicas e casos alérgicos”.

Quem conseguiu: mudança de vida

O casal Lúcia e José Augusto Ribeiro venceu o vício da nicotina há mais de 20 anos. Lúcia fumou por cerca de 11 anos; o marido, por 24. Quando decidiu parar, teve dificuldades. Ela testemunha que tinha uma “vontade louca” de fumar, mas no fim pensava mais em si e se apegou a Deus. “Minha vida melhorou em tudo: atividade física, alimentação, enfim. Eu me senti uma outra pessoa”.

Uma vez que venceu o vício, ela acabou influenciando o marido, que também estava nesse processo. “Eu parei primeiro, fui fazendo penitência e jejum. Eu precisava tirar de mim para poder pedir a Deus por ele, porque o meu marido fumava mais que eu”.

José Augusto transformou o cigarro em uma penitência de Quaresma e assim conseguiu largar o vício. Também se sentia mal no início, mas alcançou a graça, e hoje testemunha melhoria no sono e mais disposição para trabalhar. “Outra qualidade de vida”, conclui.

(Jéssica Marçal/Canção Nova)

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.